Se não estiver quebrado, não conserte…

Photo by Palmarí de Lucena
Se não estiver quebrado, não conserte…

Recente desabamento de um complexo residencial em Surfside, na Florida, soou um barulhento alerta sobre problemas de manutenção da estrutura física e limitações inerentes ao modelo de governança de condomínios residenciais. Dúvidas surgiram sobre a causa do sinistro e quem deveria ser responsabilizado, alguns residentes chegando a acusar a diretoria do condomínio de inação ou aparente indiferença as queixas e crescente preocupação sobre os problemas estruturais do imóvel. Problema exacerbado pelo alto número de vitimas, situação precária de desabrigo dos que sobreviveram e falta de garantia de indenização por perdas e danos.  

Questões incômodas sobre condomínios na Florida e ao redor do  mundo, vieram a tona após o colapso da Champlain Towers. Críticos argumentam por décadas que a modalidade de condomínio residencial é fundamentalmente impraticável, por ser um esquema desenvolvido por empresas imobiliárias e construtoras, seduzindo compradores com promessas de bons locais, amenidades luxuosas, academias e qualidade de vida diferenciada. Acusando também o modelo de governança como um fiasco inevitável, devido a falta de competência dos coproprietários e incapacidade de assegurar os interesses dos condôminos, como um todo. Sem não estiver quebrado, não conserte, parece ser o modus operandi dos gestores de condomínios.  

Grande parte do ceticismo sobre condomínios residenciais, tem raízes nas tensões entre direitos pessoais de coproprietários e obrigações comunitárias. Independente do sistema, a propriedade torna residentes, querendo ou não, em senhorios. Imobiliárias e corretores reconhecem que governança inadequada pode contribuir para disputas entre coproprietários, falta de manutenção preventiva  e desvalorização do imóvel, sugerindo a contratação de “administradores profissionais”, como alternativa a eleição de um sindico, apoiado por uma grupos de pares que formam a diretoria.

A pandemia expôs preocupantes fissuras na governança de condomínios. Pressão econômica, opção de “home office”, arranjos de locação tipo Airbnb, motivaram coproprietários ir ao mercado para alugar seus imóveis como apartamentos de temporada ou duble de escritórios. Atraindo moradores temporários, sem nenhum afinidade com interesses comunitários, transformados em uma contracultura desafiando regras estabelecidas pelo condomínio, dificultando cumprimento de medidas sanitárias e segurança de áreas comuns, tal pratica está prejudicando a qualidade de vida, desvalorizando o valor dos imóveis e agravando problemas de conservação, obrigando condôminos a  judicializar queixas e apresentar demandas contra o condomínio residencial.

Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Mônica disse:

    Realmente essa é a mais pura vdd

  • Lucia Lins disse:

    Muito bem apropriada a sua fala sobre esse assunto que está tão em alta ultimamente. Parabéns. Vou compartilhar.

  • Zezita de Matos disse:

    Seu texto me remeteu aos prédios construídos nas favelas do nosso país.

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