Dilema da imunização

Dilema da imunização

Gases nocivos de descontentamento ameaçando escapar da bolha sanitária nos protegendo da doença, medidas de isolamento social para o achatamento da curva de contágio suprimindo a liberdade de demandar publicamente medidas concretas para o combate da pandemia, prisioneiros de um desastre de proporções desconhecidas. Descoberta de vacinas e começo de campanhas de imunização projetando um facho de esperança em um mundo exaurido pela doença, desigualdades aflorando no contágio e na disponibilização de imunizantes. Limiar de um mundo miserável a espera de 200 milhões de pessoas que escaparão da pandemia a serem capturados pela extrema pobreza e expostos a novas pragas.

Com mais de 400.000 óbitos do covid-19, o programa de imunização americano ainda engatinha após meses de descaso e incompetência do governo anterior, carregando no entretanto a percha de ser o mais abrangente e o melhor do mundo. Os Estados Unidos já administraram 12.5 milhões de doses, ou seja, as primeiras da serie. Ritmo considerado insuficiente para estancar a terrível perda de vidas do momento, como notado pelo Presidente Biden no seu plano nacional de combate a pandemia.

Durante a fase de planejamento no verão de 2020, as autoridades americanas se concentraram em definir treliças de priorização, com grande enfoque em justificações éticas para a hierarquia da imunização. Planejamento que ocorreu de um modo geral, na ausência de informações especificas sobre as características particulares de cada vacina, adequação para cada grupo selecionado ou contexto epidemiológico, ou seja, se a situação seria pior ou melhor quando as vacinas estivessem disponíveis. A grande lição, é difícil lançar um programa de imunização massiva no contexto de oferta restrita de vacinas, observando um critério complicado para definir quem deveria ser priorizado   

Talvez o mais bem-sucedido programa de imunização seja o de Israel, um país totalmente diferente dos Estados Unidos, com pequena população e geografia, um sistema nacional de saúde eficiente, que começou e continuou um método muito simples de priorização, imunização por ordem decrescente de idade. Infelizmente, a eficiência israelense não inclui aqueles que vivem sob a ocupação do País, notadamente a população palestina a margem da pobreza e mobilidade além das fronteiras da ocupação israelense.

Campanhas de imunização, dependendo do contexto, podem exacerbar diferenças e contribuir para a exclusão social continuada de populações minoritárias, em situações especiais ou refugiados. Comprovante de imunizaçao transformando-se em passaporte para aqueles que podem viajar, um privilégio que a maioria daqueles afetados pelo cofid-19 não têm e possivelmente nunca terão. Trinta e nove milhões de doses já foram administradas em 49 países de alta renda, contra vinte e cinco milhões nos países mais pobres do mundo. É importante ir além do esforço sanitário, sobreviver para ser esquecido não deveria ser a única opção para os mais pobres.

Palmarí H. de Lucena, membro da Uniao Brasileira de Escritores

Comentários

  • Cecilia Serzedello disse:

    Como sempre,uma análise justa mas me leva obviamente a pensar em nos ,pobres brasileiros!!oque podemos esperar desta nossa campanha?pobre de nos!

  • Elzário disse:

    Abaixo o Estado mínimo! Parece que só querem que sobrevivam aqueles que podem pagar planos de saúde, que bancam governos genocidas! Pobre Brasil!!!

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