A maioria dos palestinos considera o movimento sionista como uma tragédia histórica, enquanto os judeus o celebram como um triunfo. O movimento surgiu no final do século XIX com o objetivo de estabelecer um estado judeu na Palestina, que não existia há 2.000 anos. Para os palestinos, essa história é marcada por um desapossamento implacável e sistemático da população árabe nativa, promovido pelas potências coloniais ocidentais. Essas potências, na melhor das hipóteses, eram indiferentes aos direitos e aspirações dos árabes, na pior das hipóteses, agiam de maneira brutal e racista.
A invasão e o estabelecimento de assentamentos de colonos judeus nos territórios ocupados militarmente, que privam os palestinos de seus direitos políticos e civis, continuam até os dias de hoje, o que inevitavelmente gera hostilidade em qualquer contexto similar, como o do regime de apartheid da África do Sul. A relação entre palestinos e israelenses pode ser mais bem compreendida através do conceito psicológico do prisioneiro e do carcereiro, ou do subordinado em relação ao senhor. Essa perspectiva é mais apropriada do que o paradigma do antissemitismo europeu, que historicamente estigmatizou os judeus como traidores e inferiores aos cidadãos cristãos.
Independentemente dos acontecimentos em Gaza, israelenses e palestinos ainda terão que compartilhar a mesma terra, entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Israel existe e não se pode negar isso, pois conta com uma supremacia militar regional e o apoio das superpotências ocidentais. Os israelenses possuem uma forte identidade nacional e um senso de propósito, o que é reforçado pelos ataques brutais contra seus civis. Assim, é fundamental que as duas partes encontrem uma forma de coexistência pacífica e justa.
A garantia de dignidade humana para todos, independentemente de raça ou religião, exige que os palestinos, incluindo os refugiados, tenham seu próprio estado-nação em algum momento, ou seja, a criação de dois estados independentes, um para cada povo, em um território dividido de acordo com a linha de armistício de 1949, conhecida como “linha verde”. Para alcançar esse objetivo, os israelenses precisarão de garantias de segurança e de um cessar definitivo e abrangente das hostilidades, bem como da normalização das relações com os países vizinhos do Oriente Médio.
Ninguém pode ser iludido ao pensar que alcançar a independência palestina será fácil, especialmente agora. Existem inúmeros inimigos implacáveis, como os fundamentalistas islâmicos que rejeitam completamente Israel e propagam o antissemitismo, os sionistas seculares que tratam os árabes como estrangeiros em sua própria terra, os sionistas religiosos de direita que desejam expandir Israel sem considerar os direitos palestinos e os evangélicos cristãos estrangeiros que veem a expansão de Israel como crucial para suas crenças religiosas.
Não existe uma solução militar para o conflito entre Israel e Palestina, pois a destruição física não pode acabar com o desejo dos palestinos de serem livres. Historicamente, conflitos políticos são resolvidos de forma mais duradoura por meio do diálogo, concessões mútuas e aceitação de resultados, que podem não satisfazer todas as ambições. As armas podem matar ou defender, mas são os laços e relações humanas que criam e mantêm a paz. Apesar do momento difícil pelo qual estamos passando, é crucial buscar maturidade, compromisso e reconhecimento da humanidade uns dos outros. Esta mensagem deve ser ouvida agora mais do que nunca.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores