Vilarejos Potemkin do Brasi

Gregory Potemkin governava a Crimeia, quando a Imperatriz Catarina II da Rússia anunciou uma visita oficial ao território conquistado em uma guerra contra os Otomanos. O entourage de Sua Majestade incluía altas autoridades e membros da realeza europeia. Lamentavelmente os cofres públicos estavam exauridos, devido aos gastos extraordinários da campanha militar. Homem criativo, o governante decidiu algo inusitado para impressionar os visitantes: construiria um vilarejo virtual ás margens de um rio no caminho da ilustre caravana. Casas com frentes falsas, seus soldados posando como residentes. Desarmavam as estruturas durante a noite, criando outros vilarejos no itinerário da comitiva. Impressionados, a Soberana e sua delegação, partiram.

O Brasil é hoje um canteiro de obras não começadas ou não concluídas, apesar da abundância de recursos anunciados ou disponibilizados pelo governo federal e através de emendas parlamentares. Falta de capacidade institucional, incompetência, corrupção e o mal-uso dos recursos advindos de emendas parlamentares nas últimas décadas, criaram cemitérios de projetos. Robustamente decorados com memoriais realçando a competência das entidades gestoras, muitos deles financiados como moeda de troca de favoresentre o poder executivo e legisladores federais.

Proximidade das eleições municipais promovendo uma onda de novos projetos, principalmente aqueles turbinados por emendas parlamentares e pela propaganda financiada pelo Fundo Partidário, enaltecendo as qualidades de postulantes a prefeituras municipais. Diferente dos vilarejos de Potemkin, frutos da pobreza da Crimeia, os nossos foram criados pela abundância e a malversação de recursos por burocratas incompetentes e práticas de corrupção. Decepcionados ao acordar dos sonhos e das fantasias exuberantes dos nossos vilarejos, sufocados respiramos os gases nocivos de uma crise econômica se expandindo na atmosfera, poluída pela corrupção política, improbidade administrativa e pela podridão fisiologista dos nossos parlamentares.

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores