A serra de Umbuzeiro, com sua neblina que às vezes se espalha como um delicado véu sobre a paisagem, contrasta com o calor intenso dos vales poeirentos que se estendem abaixo. Nas alturas, o frescor traz uma sensação acolhedora, enquanto, lá embaixo, as dificuldades são evidentes nas moradias humildes. O nome Umbuzeiro vem do umbu, árvore nativa cujo tronco ereto, como sugere o termo indígena “am-bur”, resiste às mudanças do tempo e à indiferença.
Com cerca de 10 mil habitantes, a cidade ainda mantém suas tradições, como a criação de gado e o cultivo do umbu. No entanto, uma sombra de esquecimento parece pairar sobre as figuras ilustres que nasceram ali e que, de muitas maneiras, ajudaram a moldar o Brasil. Entre os nomes, destacam-se o ex-presidente Epitácio Pessoa, seu sobrinho João Pessoa, o empresário Francisco Pessoa de Queiroz e o magnata da comunicação Assis Chateaubriand. Mais recentemente, Luiz Carlos Vasconcelos, destaque nas artes cênicas, brilha como uma das últimas grandes personalidades a manter a cidade conectada à sua história.
Epitácio Pessoa, eleito presidente em 1919, foi uma figura crucial na história da República Velha. Sua vitória sobre Rui Barbosa, enquanto residia na França, foi um feito extraordinário. Como presidente, liderou o país em tempos difíceis e representou o Brasil na Conferência de Versalhes, negociando questões fundamentais para a economia brasileira. Ainda assim, sua memória parece desbotada entre os moradores de Umbuzeiro.
João Pessoa, por sua vez, é lembrado por sua trágica morte, que mudou o rumo da política nacional. Embora o crime tenha sido motivado por questões pessoais, a sua morte foi usada politicamente, impulsionando a Revolução de 1930. Mesmo com essa importância histórica, a cidade não destaca como deveria sua conexão com essas figuras.
Francisco Pessoa de Queiroz e Assis Chateaubriand também deixaram marcas profundas. Queiroz foi pioneiro nas comunicações com a criação da TV Jornal do Commercio, e Chateaubriand, um gigante das mídias e cofundador do MASP, moldou a era moderna no Brasil. A casa de Chatô em Umbuzeiro, atualmente à venda, poderia se tornar um museu e ponto de renascimento cultural.
Luiz Carlos Vasconcelos continua a demonstrar que Umbuzeiro tem muito a oferecer. Renomado ator e diretor, ele é a prova viva do vigor artístico que ainda pulsa na cidade. Mesmo assim, faltam políticas que preservem e celebrem esse legado cultural.
A história de Umbuzeiro, que já foi um ponto de parada importante para tropeiros, corre o risco de desaparecer na indiferença. As figuras que brilharam no passado merecem mais do que o esquecimento. A cidade precisa resgatar essa memória não só para honrar o passado, mas também para garantir que as futuras gerações compreendam seu valor. A preservação da história é essencial, e cabe aos líderes locais garantir que isso aconteça. Afinal, como disse Cícero: “A história é a luz da verdade e a vida da memória.”
Palmarí H. de Lucena, Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas