Quando o Presidente Joe Biden encerrou sua campanha de reeleição e endossou a Vice-Presidente Kamala Harris para substituí-lo na chapa democrata, a campanha de Donald Trump viu uma ameaça iminente. O Comitê Nacional Republicano rapidamente propôs um processo para forçar Biden a concorrer novamente, e Trump, em sua plataforma Truth Social, alegou que Biden não pretendia realmente desistir da corrida.
A campanha de Trump entende que os fundamentos da corrida mudaram drasticamente: agora Trump é o homem velho nesta disputa, o candidato mais velho da história. Sua estratégia envolve gastar milhões de dólares nas próximas semanas para pintar Harris como uma progressista de São Francisco. Para vencer, Harris precisa oferecer uma contranarrativa convincente.
O maior desafio de Harris é a percepção pública de que ela é uma figura desconhecida. Porém, essa falta de visibilidade pode se tornar seu maior trunfo. Ela tem a oportunidade de se reapresentar a milhões de eleitores, moldando suas opiniões enquanto ainda estão maleáveis. A opinião pública é como concreto: é maleável no início e depois endurece. Harris precisa se definir claramente antes que Trump o faça.
Até agora, a aparente invisibilidade de Harris tem sido um ponto fraco. Muitos eleitores se perguntam por que, se ela tem sido a mão direita de Biden por três anos e meio, eles não a viram realizar nada significativo. Essa frustração tem sido um tema consistente entre os eleitores indecisos. Para eles, Harris ainda está em campanha, tentando conquistar seus votos, pois sentem que não a conhecem o suficiente.
Apesar dessas percepções negativas, Harris ainda tem tempo para virar o jogo a seu favor. Biden foi o candidato perfeito para os democratas em 2020, pois a maior coalizão na política americana — a coalizão anti-Trump — podia depositar suas esperanças e sonhos nele como uma alternativa aceitável. Agora, Harris espera conseguir o mesmo. Para ter sucesso, ela precisa focar nas vulnerabilidades de Trump e se apresentar como uma alternativa competente.
O tempo é essencial, então a simplicidade é fundamental. Harris não tem muito tempo para que as pessoas a conheçam, então sua melhor chance é escolher alguns contrastes claros e populares com Trump e fazer deles os pontos definidores de sua candidatura.
Uma escolha imediata é a de promotora versus criminoso. A campanha de Trump planeja atacar Harris como sendo branda com o crime, mas ela pode contra-atacar enfatizando sua experiência como promotora. Outro contraste chave é o de velho versus jovem. Aos 78 anos, Trump é uma geração mais velho que Harris, que tem 59. Com seus discursos divagantes, invocações de Hannibal Lecter, um vilão/assassino conhecido por sua combinação única de charme, erudição e violência extrema, pronuncias erradas e aparência geral, Trump agora parece cada vez mais o velho inadequado que acusava Biden de ser.
A campanha de Trump conseguiu fazer desta eleição uma questão de idade, mas agora essa é a estrutura que o próprio Trump terá que enfrentar. O ponto chave é que o trabalho de Harris precisa começar agora. Seu discurso em Milwaukee — o primeiro como a provável candidata — foi um começo forte. Se ela puder repetir essa mensagem repetidamente para dezenas de milhões de eleitores na TV, rádio e mídias sociais nas próximas semanas, ela tem uma chance real de vencer.
Palmarí H. de Lucena – Julho 2024