Um homem de visão

Surpreendidos pelo ruído ensurdecedor do rotor de um helicóptero pousando inesperadamente em um terreno baldio na parte posterior do hotel, leitura sobre os malfeitos do cotidiano brasileiro interrompida. Seguimos as pessoas tentando aproximar-se da misteriosa aeronave. Três décadas trabalhando ou vivendo em zonas de conflito e emergências humanitárias, nunca nos acostumaram a conviver com os perigos e tragédias ocupando as cabines e bagageiros destas maravilhosas máquinas voadoras. Sentimos algo bem diferente desta vez. Esquecemos o medo fascinados pela inusitada ocorrência e o despretensioso desembarque do seu passageiro.

Carregando uma sacola de compras e vestido mundanamente, o homem caminhou em direção a porta lateral do hotel. Parando momentaneamente para um aceno de despedida em direção da aeronave partindo em direção do horizonte. O passageiro chama-se Arione, mais precisamente Arione Diniz, fundador e dono da maior rede de varejo óptico do Brasil. Narrativa descontraída do papo no cafezinho, contada sem adjetivos ou hipérbole para descrever a impressionante trajetória pessoal e empresarial de um paraibano pobre, afetado pela gagueira e a timidez inerente a sua condição. Limitações que nunca foram consideradas ou temidas como impedimentos, sempre transformando desafios em oportunidades.

Conversamos sobre o tema de sucessão familiar, um problema difuso nas trocas geracionais em empresas fundadas de acordo com valores familiares e capitaneadas por seus fundadores. A alta taxa de mortalidade destas empresas é frequentemente associada a ausência de um processo sucessório, planejamento participativo e adequação às particularidades do negócio e de seus donos, separando claramente os conceitos de família, propriedade e empresa. A visão futurística do nosso interlocutor, liderança e postura inovadora assegurando o sucesso continuado da empresa pós-sucessão familiar. Homem de visão em um mundo carente de óculos.

Palmari H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores