Este fim de semana marca o segundo aniversário da invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia, evento que teve consequências devastadoras não apenas para a Ucrânia, mas também para a política global. O conflito resultante deixou áreas da Ucrânia em ruínas, ceifou vidas dezenas de milhares de pessoas e deslocou milhões de ucranianos. As ramificações desse conflito serão sentidas por muitos anos.
Desde o início, líderes ocidentais e o presidente dos EUA argumentaram o valor de apoiar a Ucrânia nesse conflito. Eles acreditam que uma democracia em desenvolvimento não deve ser sufocada por um governo autoritário. Não se deve permitir que o presidente russo, Vladimir Putin, reescreva as regras e ignore os direitos da Ucrânia como uma nação soberana. Ainda assim, mesmo com esse contexto, a fadiga relacionada à Ucrânia parece estar se instalando, especialmente nos EUA, onde os parlamentares republicanos estão bloqueando o fornecimento de recursos adicionais para a Ucrânia.
O conflito na Ucrânia tem resultado em uma guerra travada ao longo de uma frente que não se move há um ano. Isso ocorre independentemente do imenso custo humano e material. Essa estagnação tem levado alguns analistas e formuladores de políticas a questionarem se as trincheiras que dividem os campos de batalha no sudeste da Ucrânia são realmente essa linha divisória civilizacional que é amplamente retratada.
A percepção de cumplicidade ocidental na tragédia em Gaza também está dificultando a diplomacia norte-americana. O recente veto dos EUA a pedidos de cessar-fogo imediato em Gaza tem sido alvo de críticas. Esse aparente isolamento dos EUA contrasta com a cúpula do Grupo dos 20 do ano anterior na Índia, onde a invasão da Rússia à Ucrânia foi amplamente condenada.
É claro que o Conselho de Segurança da ONU não tem tido sucesso em lidar com ambos os conflitos de maneira efetiva, com os vetos dos EUA e da Rússia obstruindo a ação coletiva internacional. Isso tem levado muitos a questionarem a eficácia das instituições multilaterais para enfrentar os desafios atuais.
A verdade é que estamos vivendo em um mundo em que a influência dos EUA está em declínio, as alianças estão mudando e o direito internacional e os princípios universais que o sustentam estão sendo erodidos lentamente. A ordem baseada em regras que tem regido as relações internacionais desde o fim da Segunda Guerra Mundial está desaparecendo, e há um risco real de que não haja retorno.
Essa nova realidade é preocupante, especialmente quando se considera graves violações dos direitos humanos e a justificativa fraca de governantes democráticos ocidentais. Esses eventos apontam para uma mudança de era e exigem uma ação imediata para reverter essa tendência preocupante.
É fundamental que os líderes mundiais reconsiderem suas posições e trabalhem juntos para estabelecer uma nova ordem baseada em regras e princípios universais. Caso contrário, estaremos condenados a enfrentar um futuro incerto, repleto de conflitos e violações de direitos humanos.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores