Turismo pro mundo ver

Perguntamos ao guarda-parques de uma praça de Montevidéu, sobre os desafios de manter o logradouro livre de pichações e vandalismo. Respondeu sem hesitar: turistas subindo em monumentos e invadindo jardins para tirar fotos. Apresentação sobre a cidade de Machu Picchu interrompida constantemente pelo comportamento obnóxio de uma família. Autorretratos, fazer zoeira ou marcar presença digital, pareciam ser a motivação principal do grupo. Ambos casos, turistas brasileiros. Gestores de turismo e autoridades locais reclamando de uma improcedente maré de narcisismo e irresponsabilidade, motivada pela busca constante de autoafirmação e a transformação de locais turísticos e sítios históricos em acessórios de vídeos pessoais e fotografias.

A Organização Mundial de Turismo reporta que mais de um bilhão de visitas turísticas ocorreram no ano passado, um recorde desde que a organização começou a monitorar o movimento mundial de turistas. Problemas afetando negativamente o desempenho das economias dos Estados Unidos, da Zona do Euro e de alguns dos países do BRICS entretanto não foram suficientes para frear o crescimento vertiginoso do setor turístico global. Relaxamento de vistos, tarifas promocionais e pagamentos facilitados, colocaram os chineses e os brasileiros no topo dos gastos turísticos em 2014 e parte de 2015.

O declínio da economia brasileira e a concomitante valorização do dólar continuam diminuindo o volume de gastos no exterior, sem afetar o viés de compra de roupas, acessórios e cosméticos de marca que representa quase a metade do consumo dos nossos turistas. Talvez uma consequência não intencionada da situação atual seja fomentar o turismo de marca e sacola, uma atividade econômica vista como lucrativa e plausível, independente do nível social ou informalidade do empresário. Ênfase em compras e consumismo contribui para falta de interesse, muita vezes falta de respeito, pela cultura e história dos lugares ou países visitados. Autorretratos diante de monumentos como a Torre Eiffel, por exemplo, registram a passagem do visitante pelo local para disseminação em redes sociais, sem nenhuma atenção à história e ao valor cultural do monumento. Conhecimento não adquirido na viagem, tratado muitas vezes como um oneroso excesso de informação, sem valor comercial nem status.

Palmarí H de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores