Armados de cartazes e bandeiras, gritando slogans ou cantando temas patrióticos, cidadãos irados tomando as ruas de cidades da América Latina. Marchando em protesto pacífico, demandando mudanças, externando denúncias contra políticos e empresários corruptos. Oxigênio das liberdades democráticas enchendo os pulmões do povo reivindicando seus direitos, muitos pela primeira vez na vida. Deficiências na previdência social e do sistema de saúde, medidas de austeridade, desemprego crescente, impunidade de políticos e poderosos, denominador comum da ira popular.
Era de nacionalismo bolivariano e líderes populistas carismáticos avançando impiedosamente em direção ao seu nadir, como demandado na maioria dos protestos. Desafios à solvência da democracia, moldados por expectativas não realizadas, a queda de qualidade de vida e a descrença popular na competência e comprometimento dos governantes. Fogo no capim seco da corrupção alastrando-se pelas ruas da América Central, populações historicamente oprimidas por regimes militares ou autocráticos, agora tomando as ruas para protestar contra os escândalos de corrupção.
Pessoas próximas a vários presidentes centro-americanos acusadas de desviar verbas destinadas à saúde e de sonegação de impostos. Ex-mandatários e membros dos seus governos julgados por corrupção pelos seus sucessores. Investigação da administração do ex-presidente Ricardo Martinelli do Panamá, atualmente foragido do país, revelando a participação dos seus auxiliares em práticas corruptas em licitações e contratações de empreiteiras. Protestos contra propinas a funcionários da Alfândega por um assessor da vice-presidente da Guatemala resultando na sua renúncia e fuga do país.
Céticos questionam a viabilidade da indignação popular causar mudanças significativas ou o desmembramento de esquemas multipartidários. Enquanto o povo nas ruas protesta contra a degeneração do Estado de Direito, o poder público promulga “reformas políticas” ofuscando ou descarrilhando investigações de escândalos de corrupção, instrumentalizando órgãos de supervisão de gastos e protegendo legisladores suspeitos de conflito de interesses. Resta o poder cidadão: a única arma disponível para alcançar as mudanças profundas demandadas pelo povo e ignoradas pela classe política.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores