Tragédia anunciada do povo Yanomami

Tragédia anunciada do povo Yanomami

Palco de uma tragedia humanitária, foi assim que a situação da Terra Yanomami foi descrita em relatos de lideranças indígenas e entidades de direitos humanos, dramatizando a situação precária de cerca de 30 mil habitantes vivendo em 363 aldeias, ocupando 9,6 milhões de hectares de Floresta Amazônica, homologada desde 1992. Desmatamento, destruição do leito dos rios, garimpagem ilegal, pesca predatória, contaminação por mercúrio, aumento dos casos de malária, acirramento de conflitos e violência, perda da soberania alimentar, desnutrição infantil, são parte do dia a dia de um povo ameaçado de gradual extinção por uma legião de 20,000 garimpeiros, narcotraficantes e madeireiros, estimulados pela cumplicidade silenciosa de uma elite política sub-regional, interesses ruralistas e da mineração, hostis a demarcação de terras indígenas.  

Citações e argumentos do livro “A Farsa Ianomâmi”, escrito pelo falecido Coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto, publicado em 1995 pela Editora Biblioteca do Exército, é repleto de acusações não comprovadas e um conjunto de documentos controversos insinuando, em linhas gerais, que um povo identificado como yanomami não existia antes que a fotógrafa Claudia Andujar e organizações internacionais com interesses na Amazônia o inventassem, no intuito de se beneficiarem da demarcação da terra. Coincidentemente, as políticas do governo Bolsonaro foram, em grande parte, baseadas na acusação infundada de que os indígenas são usados como uma massa de manobra de interesses estrangeiros, vistos como inimigos do Brasil.

Nas páginas finais do livro, Menna Barreto, propõe várias ações. Entre elas, a anulação da criação da reserva yanomami em 1992, por conta das “fraudes” que o militar disse ter apresentado no livro e uma proposta para “regulamentar a exploração do ouro, do diamante e de outros minérios por pessoas físicas e empresas”. Ideias assimiladas pelo então deputado Jair Bolsonaro, que pediu 1993 a anulação da demarcação da terra yanomami. Durante sua presidência, também defendeu o garimpo em terras indígenas, propondo um projeto de lei em 2020, que regulamentava a mineração em áreas protegidas.

O fato de que toda miséria imposta ao povo yanomami, origina-se em grande parte de um livro desacreditado de um miliar, cuja veracidade e teorias de conspiração demonstram não só a fragilidade em que vivem os povos originários, como também a possibilidade de viverem em uma situação de perigo constante de genocídio, destruição da floresta e rios no entorno de suas aldeias. Medidas do atual governo, respondem a uma situação emergencial. É imperativo construir políticas públicas de proteção ao povo yanomami além de ajuda humanitária emergencial, de assegurar coerência e sustentabilidade na maneira em que tratamos a Amazonia e os povos originários. Aguardamos os planos do novo governo…

Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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