Os agentes de saúde representam a pedra angular da Estratégia Saúde da Família (ESF), a função incorporada no SUS nos anos 1990. A ESF baseia-se na expectativa de que esses profissionais sejam capazes de visitar a casa das pessoas de uma determinada região de um bairro ou cidade. O objetivo dessas visitas, é entender e acompanhar os principais desafios de saúde que afetam os indivíduos daquela comunidade, além de levar essa informação para enfermeiros, auxiliares de enfermagem, médicos da família e clínicos gerais que trabalham na Unidade Básica de Saúde responsável pela região.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem atualmente 49.172 equipes de Saúde da Família, que atendem 79% da população, ou seja, 167 milhões de cidadãos cadastrados nos serviços de atenção primária. Para o governo a atenção primária é “a porta de entrada para o SUS”. O ESF é altamente custo-efetivo e ajuda a resolver os problemas de saúde mais comuns, ao acompanhar as famílias em sua totalidade, no lugar onde elas vivem: em casa. Os agentes são os primeiros a ter informações sobre qualquer mudança que acontece e, quando usadas de forma inteligente, evitam que problemas fiquem fora de controle ou diminuam a eficácia dos tratamentos médicos convencionais.
O pesquisador inglês Matthew Harris, que atualmente trabalha em Londres, está envolvido em um projeto inspirado no Sistema Único de Saúde (SUS), onde trabalhou há mais de 20 anos. Quando chegou ao Brasil, não tinha a mínima noção de como o SUS estava baseado nos agentes comunitários. Ele percebeu que informações coletadas por esses profissionais eram úteis no dia a dia e que, com a formação adequada, também podiam realizar exames simples, como medir a temperatura corporal, a glicemia e a pressão arterial das pessoas, ou verificar se os tratamentos medicamentosos contra doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, estavam sendo seguidos.
Em um projeto piloto iniciado em Churchill Gardens Estate, Doutor Harris percebeu que a versão inglesa da estratégia criou uma espécie de “coesão social”, algo similar ao que havia ocorrido no próprio Brasil, nas regiões pelo ESF. Expansão do projeto já foi aprovada para outras áreas de Londres e deve começar a ser aplicado em bairros de locais como Yorkshire e Liverpool, demora em adotar o sistema brasileiro é um exemplo da tendência de acompanhar de perto o que acontece em países desenvolvidos, praticamente ignorando as políticas dos países da América Latina e do Sudeste Asiático.
Estima-se que 40% das necessidades de saúde das pessoas possam ser atendidas pelos agentes comunitários, durante as conversas e visitas domiciliares. “Eles podem falar sobre vacinas, ficar atentos a sintomas de doenças crônicas [como hipertensão e diabetes], lidar com feridas, sugerir a realização de exames de rotina ou simplesmente verificar se a pessoa está tomando os remédios corretamente”, exemplifica o pesquisador ao propor a incorporação da estratégia brasileira no National Health Service (NHS) da Inglaterra. Afirmando que além do evidente resultado econômico, provoca um alcance mais amplo na prevenção e atenção primária à saúde de populações menos favorecidas ou excluídas, como acontece com o nosso Sistema Único de Saúde .
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores