O Brasil, com uma história marcada por uma democracia tardia e instável, ainda sofre os efeitos de longos períodos de regimes autoritários. Esse passado enfraqueceu nossas instituições políticas e dificultou o exercício pleno da cidadania. Hoje, o poder segue concentrado nas mãos de uma elite política e econômica que, por meio de um sistema patrimonialista, mantém o controle sobre o processo eleitoral e as estruturas do Estado, usando o fundo público para atender aos seus próprios interesses.
A Constituição de 1988 trouxe avanços importantes, ampliando direitos e criando políticas sociais mais inclusivas. No entanto, o projeto de um país mais justo continua travado pelo pensamento conservador que resiste à igualdade de direitos. As elites, que se apropriaram das estruturas estatais, mantêm seus privilégios e dificultam o progresso do bem comum.
Essa concentração de poder também bloqueia a democratização das decisões políticas e a participação plena dos cidadãos. As oligarquias eleitorais controlam o processo político, limitando a liberdade de escolha dos eleitores. O voto, que deveria ser um ato de autonomia, torna-se uma mera formalidade, controlada por interesses familiares e políticos que sufocam a verdadeira participação popular.
O impeachment de Dilma Rousseff em 2016 evidenciou essa fragilidade democrática. Michel Temer, beneficiado pelo processo, implementou reformas que reduziram direitos sociais e trabalhistas, aprofundando as desigualdades. Esse movimento não é novo: desde os anos 1990, o Brasil vive um ciclo de privatização do Estado, precarização do trabalho e desmonte de políticas sociais, reforçando a concentração de poder nas mãos de poucos e ameaçando o conceito de cidadania universal.
Nesse cenário, a verdadeira escolha do eleitor é comprometida. Em muitas regiões, o voto é controlado por dinastias políticas, transformando o processo democrático em uma fachada. O eleitor, longe de votar com independência, fica preso a um sistema que perpetua as oligarquias no poder.
A ideologia neoliberal, com seu foco no mercado e na redução da cidadania ao simples consumo, alimenta esse modelo. A cultura patrimonialista das elites brasileiras, como destacou Marilena Chaui, impede a criação de uma cidadania mais inclusiva e limita a transformação social. Ao dominar o processo eleitoral e manter o poder através de heranças familiares, essa elite perpetua desigualdades e privilégios históricos.
É urgente que os eleitores recuperem o direito ao voto livre e independente, fora do controle das oligarquias. A democracia só será fortalecida quando o poder for acessível a todos, sem a concentração de riqueza e influência nas mãos de poucos. Romper esse ciclo de dominação é essencial para garantir que o voto seja um verdadeiro ato de cidadania, onde cada pessoa possa decidir seu futuro sem as amarras do passado oligárquico. Só assim, o Brasil poderá avançar rumo a uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.
Palmarí H. de Lucena