Majestade das palmeiras embaçada pelo céu cinzento, quimeras aparecendo e desaparecendo no espelho d’agua. Imagens entrelaçadas em um momento de luz, procurávamos o passado no presente. Vozes perdidas na balbúrdia do restaurante, telas dos seus celulares bloqueando a visão ao nosso dispor. Resistimos à distração intramural. Bicicletas e patins seguindo tranquilamente a circunferência da lagoa, sem a adrenalina e a audácia difusa do um playground humano. Ausência de carros e motos, gramados bem cuidados e equipamentos urbanos ainda cheirando a tinta, estávamos em um lugar mágico sem cheiro de perigo. Havíamos voltado ao passado…
Palco de um comício memorável do Cavalheiro da Esperança, o Cassino da Lagoa abrigava manifestações políticas e espetáculos musicais, independente do viés ou tendência dos protagonistas. Chão comum da comunidade, alheio às divisões do espaço social prevalentes na sociedade. Dançávamos ao som de conjuntos “prata da casa “ competindo com os metais estridentes e os gritos primais dos músicos de Ruy Rey, o Rei do Mambo do Brasil e o romanticismo meloso de Ray Conniff. Ah! Como sonhávamos embalados pela música de Waldir Calmon, a trilha sonora de um primeiro beijo. Homem em uma bicicleta ordinária tentando suportar vinte e quatro horas pedalando ao redor da Lagoa, tudo era uma novidade. Outra lembrança.
Perdemos nossa inocência. O Parque Sólon de Lucena de alhures desapareceu do nosso cotidiano. Lumpenização causada pela falta de medidas concretas para a instalação de saneamento moderno, reordenamento urbano e a restauração das áreas verdes no seu entorno, transformando o logradouro em uma área desdenhada e temida pela população. Repentinamente, ouvimos risos e gritos de crianças brincando nos equipamentos e na grama verde, o presente ressuscitou o passado feliz, com o cheirinho gostoso da comida do restaurante. Sentíamos mais segurança na tarde tranquila do presente, degustando bocados dos dias passados.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores