Sob Trump, a diplomacia dos EUA encontra seus próprios ‘guerreiros lobos’

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Sob Trump, a diplomacia dos EUA encontra seus próprios ‘guerreiros lobos’

A diplomacia americana sempre se equilibrou entre pragmatismo e idealismo, mas sob Donald Trump, esse jogo de balanço se transformou em um embate agressivo, uma postura que lembra a diplomacia dos chamados “guerreiros lobos” da China. Inspirado em blockbusters chineses, o termo descreve diplomatas que não hesitam em rebater críticas com beligerância e sarcasmo, refletindo uma China mais assertiva e menos tolerante com censuras ocidentais. Agora, os Estados Unidos parecem trilhar um caminho semelhante, mas sem a sofisticação estratégica de Pequim.

Trump e seus aliados não apenas desmontam instituições internas, mas também remodelam a diplomacia americana com cortes profundos e ameaças a alianças históricas. Assim como os diplomatas chineses que veem complôs ocidentais contra seu país, Trump acredita que os Estados Unidos estão sendo explorados por parceiros internacionais e que chegou a hora de reverter essa dinâmica, custe o que custar. O resultado é uma política externa impulsiva e transacional, que gera desconforto mesmo entre aliados tradicionais.

O novo tom agressivo já causou episódios controversos. Na Conferência de Segurança de Munique, o vice-presidente JD Vance classificou a elite liberal europeia como uma ameaça política maior que a Rússia e a China, provocando choque entre diplomatas europeus. “Foi um discurso fascista, anti-europeu”, declarou um diplomata ao jornal Le Monde. Gideon Rachman, do Financial Times, observou que Vance usou táticas de “e daí?” ao estilo soviético, desviando atenção dos ataques internos à democracia americana para criticar as leis de censura europeias.

A erosão da credibilidade dos EUA como aliado confiável é perceptível. O ministro da Defesa de Cingapura, Ng Eng Hen, alertou que a “legitimidade moral” dos Estados Unidos na Ásia está em declínio. “A imagem mudou de libertador para grande desestabilizador, para um senhorio cobrando aluguel”, afirmou. Essa abordagem tem fragilizado o soft power americano e reforçado a percepção de que os EUA se tornaram um parceiro incômodo e imprevisível.

Dentro do próprio governo, os responsáveis pela diplomacia também refletem essa nova orientação radical. Darren Beattie, nacionalista pró-Trump e exonerado da primeira administração por seus laços com supremacistas brancos, agora ocupa um cargo interino de relevância. Sua substituta, Sarah Rogers, é conhecida por suas ações judiciais contra plataformas digitais em defesa da Associação Nacional do Rifle. A nova cara da diplomacia americana se distancia cada vez mais dos valores democráticos que o país historicamente promoveu.

Enquanto a China investe em uma diplomacia calculada para expandir sua influência global, Trump parece estar cedendo espaço para seus rivais. Seu desejo de adquirir territórios como a Groenlândia, por exemplo, apenas reforça a narrativa chinesa de que os Estados Unidos continuam um império decadente e sem direção clara. “Cada declaração de Trump que enfraquece o princípio da soberania territorial é uma vitória para os propagandistas de Pequim”, afirmou Ryan Hass, do Brookings Institution.

A diplomacia de Trump não é apenas uma estratégia agressiva, mas uma ruptura com os valores que moldaram o papel dos EUA no mundo. Enquanto Pequim argumenta que a democracia liberal não é o caminho para a prosperidade, Trump parece reforçar essa ideia ao afastar aliados e reduzir os Estados Unidos a uma força errática no xadrez global. Seus “guerreiros lobos” estão ocupados demais provocando seus parceiros para perceber que estão, na verdade, entregando a hegemonia global a seus adversários.

Palmarí H. de Lucena

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