A declaração da Independência dos Estados Unidos é venerada como uma fonte confiável de tropos, usados em discursos e reflexões sobre a democracia. Quando publicada em 1776, sua linguagem revolucionária inspirou outros a produzir documentos similarmente radicais e abrangentes. Revolucionários franceses publicaram na Declaração dos Direitos do Homem em 1789, que “[…] homens nascem e são livres e iguais em direitos.” Líderes da rebelião de escravos de 1804, no Haiti, afirmaram ao proclamar independência do País, que “[…] devemos viver independentes ou morrer.”
Historicamente, a força do exemplo sempre foi um arma importante do arsenal dos Estados Unidos na defesa da democracia, da liberdade política, dos direitos universais e preservação da regra da lei, no entretanto, não foram as palavras, influência cultural, poderio econômico ou militar que importaram e sim as conquistas democráticas que sustentaram mais de dois séculos e meio de transições pacíficas de poder, paulatina expansão de liberdades e uma tradição sólida de debate civilizado.
Tradição quebrada no governo de Trump, pelo primeiro mandatário e uma claque de extremistas determinados em disseminar uma nova espécie de influência antidemocrática americana, favorecendo autocracias em vez de democracias, demonizando instituições do estado de direito e menosprezando a regra da lei, apoiando ostensivamente insurreições e o caos. Campanhas de falsidades, teorias de conspiração e desinformação nas mídias sociais, desestabilizaram discussões pacíficas, provocando ódio e rancor entre as pessoas nelas envolvidas, dividindo famílias e amigos.
Apesar das instituições democráticas presentes na Praça dos Três Poderes, terem sido vítimas de ataques antes, notadamente em 2013, os eventos de 08 de janeiro de 2023, apresentaram novos elementos. A invasão, depredação e roubo cometidos nos prédios do Congresso, Palacio Presidencial e a Suprema Corte foram perpetrados por “manifestantes” que agrediram policiais, quebraram barreiras de segurança, enquanto exibiam cartazes em inglês, como se criando um eco virtual com que aconteceu em Washington, reafirmando sinergias que existem entre alguns movimentos extremistas e organizações da direita religiosa na America Latina, Europa e Estados Unidos.
Força do exemplo funciona de muitas maneiras. Se os Estados Unidos quiserem ajudar o Brasil a defender sua democracia ou evitar que o País afunde no caos, precisam de demostrar conclusivamente que movimentos extremistas americanos foram malsucedidos, que culpados de sedição e violência estão pagando um preço alto por suas ações. Devem também ajudar as instituições brasileiras na busca por justiça, identificando conexões financeiras, relações políticas e outros ligações entre extremistas americanos e brasileiros, incluindo vínculos entre Trump, Bolsonaro e membros de suas respectivas famílias, se relevantes as investigações.
Cooperação eficaz entre os Estados Unidos e o Brasil no combate ao extremismo antidemocrático, não é só para o benefício de um dos países. Revoluções democráticas são contagiantes e bem-sucedidas por muito tempo, precisamos agora entender que revoluções antidemocráticas também podem possuir as mesmas características, ironicamente com o apoio de líderes empoderados por eleições abertas, livres e justas.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores