O inventor e industrialista, Alfred Nobel, criou o Premio Nobel da Paz com caracteristicas próprias. Um reconhecimento as pessoas e organizações envolvidas em um processo de resolução de problemas, mesmo que ainda não tenham alcançado seus objetivos. Implicito na escolha do homenageado, uma mensagem dupla de incentivos e desafios. Como se dizendo, o mundo aprova suas ações. Estamos com você…
O debate sobre a escolha do Presidente Obama, gerou controvérsia em todas as regiões do globo. Nos Estados Unidos, as reações dos acólitos de Dick Cheney; do reacionarismo saudosista da Fox Cable Network e dos chamados neoconservadores, não é surpresa. O ressentimento acumulado, devido às políticas socioeconômicas liberais e multilateralistas do presidente, é profundo. Enquanto isso, o mundo respira aliviado com a saída de George W. Bush. A mensagem de esperança de Obama contagiou o eleitorado, o levou a Casa Branca. O prêmio é um incentivo para transforma-la em realidade.
Fomos privilegiados em nossa vida profissional por haver trabalhado com pessoas que, como Presidente Obama, foram distinguidos com o Prêmio Nobel da Paz. O reconhecimento não passou despercebido por aqueles que não entediam ou simplesmente, questionavam a decisão por razões puramente pessoais, às vezes profundamente ideológicas. Criticaram o prêmio da Madre Teresa (1979) porque a consideravam uma “assistencialista”, não questionava porque muitas pessoas viviam na exclusão. Oscar Arias Sanchez (1987) recebeu o prêmio logo após lançar seu Plano de Paz. Chamaram a escolha de prematura. O Presidente da Nicarágua caracterizou o trabalho de Arias como uma farsa. Nelson Mandela e o Presidente Frederik de Klerk compartiram o prêmio de 1993, por trabalharem juntos pelo fim do regime de apartheid, por uma democracia multirracial. O comitê norueguês foi criticado por aqueles que consideravam o Congresso Nacional Africano, como uma organização terrorista ou viam o presidente sul-africano, como um resquício do regime racista de apartheid.
O Prêmio Nobel demonstra que a busca da paz não é algo fácil, instantâneo ou de aceitação universal. Todos ganham, mas, muitos perdem com a paz…
Madre Teresa nos convidou um dia para visita-la em Nairóbi, no Quênia. Precisava urgentemente de ajuda para seus pobres. Um milhão de pessoas vivendo em extrema pobreza em Kibera, uma favela que se tornou famosa no filme “O Jardineiro Fiel”. Necessitavam de comida e medicamentos. Explicamos que teríamos que elaborar um projeto formal. Ela respondeu com firmeza, “meus pobres não podem esperar, tenho certeza que o senhor vai conseguir algo imediato”. Não era um comando. Um apelo à consciência humana. Contatei os representantes dos países doadores, com muita fé e vigor. Dias depois, tínhamos mais de quatro mil toneladas de alimentos e medicamentos garantidos. E ainda não acreditamos em milagres… Madre Teresa contribuiu para o entendimento e a ressurreição da solidariedade, entre pessoas e povos. Muito mais do que um tratado de paz.
Presidente Jimmy Carter recebeu o prêmio em 2002. Convidou-nos para participar de uma reunião extraordinária do Internacional Negotiations Network. Uma convocação massiva envolvendo partes representando mais de vinte conflitos internos ou problemas bilaterais, em todos continentes. Sua proposta era simples: um grupo de experts e mediadores se reuniriam, com as partes de cada conflito, para ajuda-los a encontrar um “chão comum”. Havia nos convocado como especialista sobre a situação angolana. Nosso grupo encontrou pelo menos quarenta pontos de convergência, entre os dois lados. Não chegamos à paz. Avançamos um pouco mais na sua direção.
A ONU foi uma das organizações mais criticadas no começo do Milênio. Muitos questionavam sua legitimidade e viabilidade da organização na resolução de disputas, promoção da paz e o desenvolvimento. A recusa dos Estados Unidos em pagar suas contribuições enquanto demandava sua reorganização, havia enfraquecido o sistema multilateral, a ponto da quase total ineficiência. O Secretário Geral, Kofi Anan, colocou a revitalização e reforma da ONU na cabeça da lista das prioridades mundiais. Em 2001, recebeu o Prêmio da Paz por seu esforço e em nome dos funcionários da organização. Incluímos-nos com muita honra e orgulho entre aqueles que receberam esse Nobel.
Um dia diremos em uma só voz: sim, nós podemos!
Suécia 2009