O processo eleitoral em duas etapas, conhecido como segundo turno, promete garantir legitimidade e maior participação, especialmente em cidades como João Pessoa. No entanto, essa dinâmica muitas vezes frustra os eleitores, cujas expectativas ficam longe de se realizar. Embora o segundo turno busque assegurar que o prefeito eleito tenha mais de 50% dos votos, o que deveria ser uma oportunidade para maior representatividade acaba se transformando, em muitos casos, em uma escolha limitada e insatisfatória.
Nas eleições mais recentes em João Pessoa, o segundo turno expõe um problema recorrente: o eleitorado se vê forçado a escolher entre dois candidatos que não refletem totalmente suas aspirações. No primeiro turno, nenhum candidato obtém a maioria dos votos, e essa fase adicional de campanha, em tese, deveria permitir maior clareza e aprofundamento das propostas. Contudo, na prática, os eleitores se encontram diante de opções que consideram inadequadas, votando no “menos pior” em vez de optar por alguém em quem confiam plenamente.
Esse tempo adicional de campanha, entre o primeiro e o segundo turno, em vez de enriquecer o debate, frequentemente resulta em discursos ajustados para agradar eleitores que apoiaram outros candidatos. Em João Pessoa, isso é notório: os candidatos formam alianças estratégicas e fazem promessas que muitas vezes não saem do papel, aumentando a desconfiança e a insatisfação com o processo político. As promessas de campanha se diluem em compromissos frágeis, o que só faz crescer o descrédito.
A expectativa de que o segundo turno reduza a polarização também não se concretiza. Em vez de promover políticas mais inclusivas e moderadas, os candidatos frequentemente adotam posições oportunistas para conquistar votos. Essa estratégia acaba alienando parte do eleitorado e perpetua uma política de alianças temporárias que não oferece soluções reais para os desafios enfrentados por uma cidade complexa como João Pessoa.
Outro ponto crítico é o impacto do segundo turno sobre a participação eleitoral. Embora a etapa seja projetada para aumentar o engajamento dos eleitores, muitos se sentem desmotivados quando percebem que as opções são limitadas e não refletem suas verdadeiras preferências. Em João Pessoa, essa frustração é palpável, pois eleitores acabam optando por não votar ou anulam seus votos, enfraquecendo a legitimidade do processo.
Em resumo, o segundo turno nas eleições de João Pessoa exemplifica bem os dilemas e as expectativas frustradas desse sistema. Apesar de suas vantagens aparentes, ele muitas vezes resulta em escolhas inadequadas e limita a capacidade dos eleitores de expressar plenamente suas preferências. O que deveria ser uma oportunidade para fortalecer a democracia transforma-se, na prática, em uma escolha forçada entre opções que não inspiram confiança nem representam a verdadeira vontade popular.
Palmarí H. de Lucena