Satíricon político

Situações absurdas e ridículas permeando o mundo politico e a sociedade contemporânea como um todo, nos remete à época onde personagens públicos e privados agiam como se fossem desprovidos de pudor ou limites morais e éticos balizando suas ações. Estamos vivendo umaversão moderna do Banquete de Trimalquião do Satíricon de Petrônio, a única diferença sendo a existência de valores judeu-cristãos e normas de conduta estabelecidas por sociedades secularmente democráticas, igualitárias e zelosas dos direitos básicos dos seus cidadãos.

Contradição, excentricidade, ambivalência e ambiguidadesão as marcas do traço estilizado atribuído a Petrônio, criando situações absurdas e ridículas, transformando-as em tragédias sem nunca perder ou remover o manto negro do seu humor. Completa amoralidade dos seus protagonistas, o denominador comum decostumes que hoje considerados absurdos, vista com extrema naturalidade.

A conduta pessoal de políticos e empresários da atualidade abriu as cortinas de um mundo subterrâneo imbuído quase que naturalmente, na sublevação de valores básicos e o uso irrestrito da prática de deslizes éticos para obter vantagens indevidas e privilégios, por todos os meios necessários. Limites estabelecidos por leis e costumes são vistos como empecilhos enfadonhos da gincana frenética pela permanência no poder e acesso continuado a seus benefícios materiais. Hoje temos uma situação de vale-tudo amoral e a desintegração de princípios de civilidade e imparcialidade.

A vulgaridade do linguajar de políticos e pessoas na liderança das nossas instituições é uma fissura grave e perigosa no entendimento cordial que deveria existir entre colegas, políticos e pessoas com pontos de vista opostos. Aberta a Caixa de Pandora das interações de políticos e empresários, nos inteiramos com repugnância que a vulgaridade subterrânea se convertera em contraponto as gentilezas em público, vozes iradas recheadas de obscenidades dignas do Banquete de Trimalquião, no Século I.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores