Partidos políticos e ideologias transformados em massa amorfa, incolor e insipiente. Manifestos e declarações anunciando ou denunciando novas e antigas alianças políticas sem nenhuma conexão com a conjuntura atual, os sonhos ou pesadelos do eleitorado. Ódios e interesses pessoais cavalgando unidos na Estrada de Damasco que inventaram. Todos comprometidos, seguros nas suas selas, parecendo dizer cinicamente: os rebanhos de ovelhas sempre nos seguirão. Desdenhando tudo que fosse moral, ético ou coerente. Ofuscados pelo nevoeiro da ignorância servil, memórias e recordações dos pecados, perfídia ou mediocridade dos cavaleiros. Políticos subvertendo o processo democrático com promessas de benesses, cargos de confiança para parentes ou apadrinhados e privilégios obtidos através do pragmatismo dos maratonistas do poder. Vitória a qualquer custo, moral ou financeiro.
Uma reflexão do escritor inglês Gilbert Chesterton sintetiza fielmente atitudes atuais sobre o modo de fazer política no Brasil: “[…] Eles disseram que eu deveria perder meus ideais e começar a acreditar nos métodos de políticos práticos. Agora, eu não perdi meus ideais, no mínimo, a minha fé nos fundamentos é exatamente o que sempre foi. O que eu perdi foi a minha fé infantil na prática política.” Sentimentos ecoados por quase 65% de eleitores jovens brasileiros, quando perguntados se os políticos representavam o interesse da população. A percepção de que os adolescentes têm da política e dos políticos geralmente gira em torno da corrupção; campanhas e coligações eleitorais não são capazes de evocar imagens positivas. Paradoxalmente, o voto aos dezesseis anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988.
Corrupção adquirindo características endêmicas no cenário político partidário brasileiro. Coligações e candidatos prometem acabá-la, renegando a promessa prontamente, quando chegam ao poder. Tornando-se incapazes de penetrar as barreiras erguidas pelo grande comprometimento corrupto entre os detentores e manipuladores do poder. Grande confusão de valores mentais, associada ao oportunismo cínico e pessoal, confundindo a coisa pública com o indivíduo. Tomando o valor prático do pragmatismo econômico como critério da verdade e criando uma falsa meritocracia como vigas de sustentação da espécie política que floresce nos pântanos da nossa imaturidade democrática.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores