Sapé: À Sombra do Tamarindo

Photo by Palmarí H. de Lucena
Sapé: À Sombra do Tamarindo

Os versos de Augusto dos Anjos são como um espelho que reflete as complexidades da alma humana, revelando seus cantos mais sombrios e perturbadores. À sombra de um tamarindo, esse poeta singular encontrou refúgio desde a infância, deixando para trás um legado que ecoa através das eras.

Hoje, o cenário em Sapé é uma mescla entre memória e realidade. O pequeno memorial de Augusto dos Anjos se mistura harmoniosamente com a casa da ama de leite Guilhermina, a capela de São Francisco e as ruínas da Usina Santa Helena. As casas dos antigos moradores apontam na direção da usina, um trajeto que agora permanece intocado, lembrando-nos daqueles que moldaram esta terra com seu suor e trabalho árduo.

O verde monótono das plantações de cana-de-açúcar completa a paisagem, uma lembrança persistente de um passado que nunca deixou de existir, exceto pelo aroma doce do açúcar que já não paira mais no ar.

Tudo em Sapé parece ter suas raízes na terra. O próprio nome da cidade deriva de um tipo de capim que iluminava o caminho dos povos originários, dando-lhes claridade durante as travessias noturnas.

Da terra também emergiram as Ligas Camponesas, um movimento organizado por trabalhadores rurais em busca de melhores condições de vida. As conquistas das Ligas Camponesas foram numerosas e abrangeram diversas áreas, incluindo educação, saúde e direitos trabalhistas. O Memorial das Ligas Camponesas, localizado na antiga casa das lideranças do movimento, é um testemunho vivo dessa luta incessante por justiça social.

O presente de Sapé é uma tapeçaria de memórias, entrelaçando progresso e opressão. Suas ruas carregam nomes que ecoam a nobreza da cana-de-açúcar, enquanto um pequeno relicário homenageia seu filho mais ilustre, o poeta Augusto dos Anjos, orgulho paraibano do século XX.

“Nem sei o que murmura ou o que chora… Se é a queixa dos ventos soluçantes, Se o rumor das folhagens sussurrantes Ou a queixa do rio que ali chora…” Estas palavras do poeta ressoam como um eco eterno, capturando a essência deste lugar onde o passado e o presente se entrelaçam de maneira indissociável.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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