Saint-Exupéry e o casarão rosado

Pedras de quartzo cor-de-rosa cobrindo a fachada do casarão, nuanças realçadas pela claridade e a intensidade do sol. Etéreo na luz do dia, misterioso na penumbra. Sem haver criado algo espetacular ou uma referência arquitetônica da cidade, o proprietário desenhara e edificara uma vivenda urbanamente confortável para Dona Carminha, sua amada. Cercada de terraços acolhedores como a indolência do balanço de uma rede de algodão. O homem chamava-se Chico, brasileiro genérico não fosse pelo fato que adotara o cognome Chico do Pilar, uma lembrança de sua terra adotiva.

Trafegamos recentemente pela esquina da casa, sua visão rosada desaparecendo do retrovisor em segundos, ficaram as lembranças. Sorriso cúmplice, notamos que a edificação desafiara o rolo compressor dos argonautas da construção civil e a lógica vertical dos desenvolvimentistas urbanos. Quase seis décadas haviam passado desde aqueles momentos de descoberta e fascinação que compartilhamos com Magdala, a filha de Chico do Pilar. Trocamos conhecimentos e opiniões, discussões norteados por divergências saudáveis sobre a ação católica do Padre Cardijn e os ensinamentos dos grandes pensadores católicos. Imbuídos pela alacridade impaciente da curiosidade de adolescente, viajávamos pelas trilhas filosóficas de Jacques e Raissa Maritain, Charles de Foucault, Antoine Saint-Exupéry, Erich Fromm e Tristão de Athayde.

Saint-Exupéry era nosso chão comum. Seus livros buscavam a bondade em lugares distantes, espelhando os três princípios da compreensão cristã do ser humano: o bem comum, a solidariedade e a subsidiariedade. Partimos para o mundo adulto: ela optou pela militância e a resistência contra a Ditadura Militar e nós seguimos uma rota humanitária flanqueada por vitrines da miséria humana, pessoas à mercê da volubilidade da natureza e das calamitosas guerras fraticidas. “Sou um pouco de todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que deixei e sou muito das coisas que gostei. “Saint-Exupéry, nosso piloto quando o céu estava nublado.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores