Trinta e nove cadáveres de imigrantes asiáticos escondidos no baú frigorifico de um caminhão abandonado em um parque industrial do Reino Unido, provocou reações globais de horror e revulsão. Poucos detalhes emergiram sobre origem das vítimas, embora a opinião generalizada sugerira que a maioria deles poderia ser de origem chinesa. Provoca perplexidade, no entretanto, a razão por que cidadãos da segunda economia do mundo se exporiam a grandes riscos, voluntário ou involuntário, para imigrar ilegalmente para países do Primeiro Mundo.

A China representa um quarto dos dez milhões de migrantes internacionais. Rápida expansão da economia e a existência de “Chinatowns” em países ocidentais, contribuem para um aumento exponencial de chineses tentando imigrar para os Estados Unidos, Canada, Austrália e o Reino Unido, que em 2018 concedeu 750.000 vistos para cidadãos chineses, equivalente a 25% de todas solicitações aprovadas.

Dramático crescimento econômico e concomitante redução da pobreza na China, entretanto, está agravando a iniquidade no acesso de oportunidades e crescimento pessoal. Aumento da imigração chinesa aparenta ser um reflexo direto destas disparidades. Cientistas, acadêmicos ou informáticos imigram para países industrializados, os mais pobres para a África ou países do Leste Europeu. O Brasil pode transformar-se na nova rota de trânsito para os imigrantes menos favorecidos.

A isenção de vistos para chineses e possivelmente indianos, sem obter reciprocidade para cidadãos brasileiros, permite a livre entrada de cidadãos de países responsáveis por boa parte da explosão migratória mundial. Abrindo uma brecha para a permanência ilegal de imigrantes após chegam ao Brasil, com vistos de turista. Não é justo, nem aceitável deixar que outros países tratem brasileiros como cidadãos de segunda classe ou de condenar imigrantes pobres a serem explorados em situações inadequadas, nas cadeias de produção de indústrias brasileiras ou estrangeiras.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores