Primeiro aniversário do assassinato do adolescente boliviano Kevin Espada, morto por umsinalizador disparado por ummembro da torcida do Corinthians. Encobertos pela impunidade e a conivência de afins, protagonistas continuam perpetrando atos de violência contra torcedores rivais, centros de treinamento ou intimidando árbitros e jogadores até do seu próprio clube. Camuflados nestas atitudes, preconceitos caracterizados pela intolerância racial e homofobia.
Rojão lançado por manifestante no Rio de Janeiro fez uma nova vítima: um repórter-cinematográfico cobrindo o protesto. Tambores rufando, o poder público anunciou propostas emergenciais para coibir manifestações esporádicas, incidentes de violência e atos ignóbeis devandalismo. Ausente do debate: o artefato usado ilegalmente para perpetrar o crime à revelia do Regulamento de Lei R.105 do Exército Brasileiro, diante dos narizes dos organismos de segurança pública.
Apresentados em reação à tragédia da Boate Kiss e à morte do torcedor boliviano, circulam no Congresso dois projetos de lei com proibições draconianas sobre a fabricação e uso de fogos de artifício. Assembleias legislativas e câmaras municipais aprovaram ou estão considerando legislação proibindo a utilização de sinalizadores, fogos de artifícios, artefatos pirotécnicos ou produtos similares, nos estádios de futebol, casas noturnas, sem referências à manifestações. Os rojões continuam sendo disparados impunemente, muitas vezes com graves consequências.
Planejamento estratégico, táticas cidadãs, prevenção e resolução pacífica de conflitos são fundamentais na manutenção da ordem pública. Devemos fortalecer a segurança pública removendo das mãos das turbas violentas os fogos de artificio que possam ser usados como armas letais nas ruas, lugares de entretenimento e nos estádios de futebol. A democracia não pode ser transformada em uma tragédia, nem a sociedade civil em um coro grego entre atos de violência e intolerância antidemocráticos.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores