Retorno à civilidade

Vivemos hoje um clima de incivilidade, comportamentos antidemocráticos contaminados por uma retórica tóxica que inviabiliza a formação de consenso ou alianças, valorizando os benefícios do diálogo civilizado e da convivência pacífica. Apesar da conclusão de certames eleitorais, políticos continuam atirando pedras nas janelas dos seus adversários, esquecendo que possivelmente tenham telhados de vidro.

Democracias vivendo os efeitos desagregadoresde campanhas políticas nos Estados Unidos, Brasil e do Brexit no Reino Unido. Populações perplexas com as divisões profundas na sociedade civil e desconstrução de valores imbuídos em políticas públicas de alhures. Tudo e todas elas questionadas por uma nova ordem, que entende seus mandatos como algo limitado a responder as demandas dos seus seguidores.

Uma pesquisa conduzida pela renomada Quinnipiac University concluiu, que a maioria do povo americano quer ver um retorno a civilidade, noventa e um por cento dos eleitores registrados, afirmando que a falta de civilidade na política é um “problema sério” para a democracia. Entrevistados na Pesquisa Pew, consideraram “essencial” que ocupantes de cargos eletivos mantenham um tom de civilidade e respeito na política.

A preocupação sobre o impacto negativo da falta de civilidade no futuro da democracia é tão grande, que grupos de visões diferentes estão promovendo pontos de diálogo, para combater o dano causado pela retórica inflamatória do “nóis contra eles” ou de pessoas do bem contra pessoas do mal. Diferenças de opinião só nos transformam em pessoas amarguradas, quando caracterizamos nossos oponentes como pessoas más.

Devemos rejeitar a noção de que a civilidade está totalmente em desuso na política e erodida significativamente na nossa vida pública ou privada. Basta de políticos demonizando partidos opostos, famílias sofrendo divisões profundas devido a divergências partidárias ou guerras entre amigos no Twitter ou Facebook. Devemos demandar que a classe política se comporte com civilidade e respeito a democracia.

Palmari H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores