República do Déjà-vu

O Haiti não era[…] uma exceção num mundo sadio: era uma pequena fatia do dia a dia tomada ao acaso […]”, afirmara um dos protagonistas da novela ¨Os Farsantes¨, de Graham Greene.

Papa Doc Duvalier, médico tímido e gentil, transformou-se em um ditador ao chegar à presidência nos fins da década de 50. Era o grande vilão de Greene. Oprimiu o povo por quase duas décadas, com seus temidos ¨tontons macoutes¨ e a manipulação das crenças e superstições do Vodu. Baby Doc, 20 anos de idade, assumiu o poder após a morte do pai, governou ao mesmo estilo até os meados dos anos 80. Anos de golpes e contra golpes se seguiram. Finalmente elegeram um presidente, deposto antes de terminar seu mandato.

O poderio militar dos norte-americanos e a comunidade internacional coadjuvante estabelecendo uma nova ordem politica, mais uma vez. Bertand Aristide, o primeiro presidente eleito democraticamente no Haiti, retornou para completar os dois últimos anos do seu mandato.

O presidente promulgou um decreto estabelecendo a Comissão Nacional de Verdade e Justiça, meses depois de retomar seu mandato. A medida atendia às reinvindicações da comunidade internacional e do povo haitiano. Nosso escritório nas Nações Unidas serviria como o gestor dos recursos e da implantação das atividades relevantes aos trabalhos da comissão. Quase cinco décadas de desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais, prisões arbitrárias e outras violações graves dos direitos humanos.

Grandes obstáculos surgiram na realização das investigações. Falta de vontade política; perda de interesse e financiamento externo; confusão sobre o mandato da comissão; inexperiência do pessoal haitiano e temor pela segurança dos investigadores entorpeceram qualquer possibilidade de elaborar um documento que se remetesse à investigação e adjudicação de processos ou à reconciliação nacional. Nenhum procurador foi nomeado para seguir os casos documentados pela comissão.

Baby Doc voltou do exilio em Janeiro; Aristide também retornou, do seu segundo exílio político. Encontraram o país em crise devido às disputas sobre as eleições presidenciais. As peças retornaram aos seus lugares originais no tabuleiro da politica fraticida do Haiti.