Remígio: Uma Terra de Devoção, História e Singularidade

photo by Palmarí H. de Lucens
Remígio: Uma Terra de Devoção, História e Singularidade

Os ecos tumultuosos da Confederação do Equador, que ressoaram pelas montanhas e vastas paisagens do território brasileiro no século XIX, ainda reverberam na região outrora conhecida como Lagoa de Remígio. Estas memórias não apenas nos transportam para uma era passada, mas também nos lembram da coragem e determinação daqueles que ali viveram.

Em meio a esse cenário efervescente, Remígio, outrora parte de Areia, emergiu como bastião de ideais revolucionários, engajando-se fervorosamente nas lutas da Confederação do Equador. O movimento republicano e separatista, que teve início em Pernambuco em 2 de julho de 1824, encontrou eco nas terras de Remígio, culminando mais tarde em sua emancipação em 14 de março de 1938, um marco na história da cidade.

Entretanto, Remígio transcende sua faceta como testemunho de bravura revolucionária. É uma terra de contrastes, onde as marcas da colonização europeia se mesclam com a devoção religiosa e a busca pela liberdade.

Igreja Nossa Senhora do Patrocínio, com data de construção de 1893, apresenta pinturas nas paredes e teto, feitas apenas em 2014 pelo artista plástico Roberto Reis. Ali, devotos se reúnem em fervor, celebrando com fé e devoção os ensinamentos e milagres da santa padroeira. Esta manifestação de fé não apenas fortalece os laços espirituais da comunidade, mas também destaca a importância cultural e religiosa que permeia a vida dos remigenses.

Por outro lado, as raízes históricas de Remígio mergulham nas profundezas da escravidão, refletidas na maternidade dos negros e nos tanques de pedra que testemunharam os momentos mais íntimos e desafiadores das mulheres escravas. Estes locais, marcados pela dor e resiliência, são testemunhos vivos de um passado doloroso, porém inesquecível.

A maternidade de escravas, construída em pedra, apresenta uma estrutura redonda de aproximadamente 3m x 2m, onde partos eram realizados e recém-nascidos acolhidos. Esta estrutura servia como isolamento térmico, protegendo mães escravas e seus filhos do frio intenso da região durante as noites de inverno. Segundo historiadores, crianças nascidas ali permaneciam com suas mães biológicas por dois anos, antes de serem separadas e entregues às mães de leite, iniciando uma jornada de trabalho árduo nas senzalas.

Além disso, Remígio abraça a modernidade sem perder sua essência. A produção agroecológica de algodão, conduzida pela Associação dos Produtores do Assentamento Queimadas, é um exemplo vivo de sustentabilidade e preservação ambiental. Enquanto isso, o Cine RT, modernizado ao longo dos anos, preserva o espírito do cinema de rua, oferecendo entretenimento e cultura à comunidade.

E entre as histórias que ecoam pelas margens do rio Pirangi Mirim, encontra-se o bangalô, guardião de segredos e romances proibidos. A história de Tereza e seu amor pelo escravo é um lembrete das paixões e lutas que moldaram a alma de Remígio.

Assim, em meio a paisagens de beleza selvagem e tradições ancestrais, Remígio se ergue como uma página viva da história, onde passado e presente se entrelaçam em uma tapeçaria de memórias e sonhos. É um convite para os visitantes mergulharem nas profundezas dessa terra singular, onde cada pedra, cada lagoa, cada rua conta uma história que merece ser contada e lembrada.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Deixe um comentário

Seu endereço de email não será revelado.