O que significa verdadeiramente amar um país? É uma reflexão que nos leva às profundezas da nossa identidade nacional, uma questão que muitos de nós talvez não tenhamos explorado totalmente. É um sentimento multifacetado, uma mistura de orgulho, pertencimento e compromisso, mas também de crítica e aspiração por um ideal mais elevado.
Durante minha jornada no exterior, dediquei-me a promover nossa cultura e a valorizar a contribuição de profissionais brasileiros nas mais altas esferas de organismos internacionais. Esse empenho foi impulsionado por uma conexão profunda, comparável ao amor. No entanto, esse amor transcende o mero fascínio intelectual; é mais semelhante ao amor por uma família. É a esperança de que todos os que compõem esta nação – por nascimento ou escolha – prosperem, encontrando mesmo nas adversidades uma bênção, porque seu valor é inerente e incondicional.
Assim como uma família se une nos momentos difíceis e protege o lar como um refúgio especial, a honra de uma nação reside em reconhecer generosamente os direitos à lealdade e ao cuidado de todos os seus cidadãos. Essa é a essência do verdadeiro patriotismo: não apenas amar o país, mas também lutar por seu bem-estar e justiça para todos.
O Brasil, como frequentemente afirmado, é mais do que uma terra delimitada por fronteiras geográficas; é uma ideia, uma promessa de igualdade e liberdade para todos que aqui habitam. Somos chamados a enxergar uns aos outros sob a luz de um valor inalienável, o que nos uniria como uma grande família, se permitido.
No entanto, nos deparamos com uma crescente rejeição dessa ideia. Alguns encaram a igualdade como uma ameaça, alimentando ressentimentos e divisões que corroem os pilares da nossa sociedade. Fantasiam sobre violência contra grupos marginalizados, propagam teorias conspiratórias e disseminam ódio como se fosse verdade.
Como cidadão comprometido com os valores democráticos, vejo-me desafiado a permanecer fiel ao meu país de maneiras que demandam pragmatismo e ação. Se alguém está com fome, devemos alimentá-lo; se está na prisão, não podemos abusar nem o abandonar. Devemos reconhecer nossas falhas e trabalhar para corrigi-las, seguindo os princípios de justiça e igualdade que fundamentam nossa nação.
Nos últimos anos, vimos líderes políticos disseminando desinformação e minando a confiança nas instituições democráticas. Ao questionar a legitimidade do processo eleitoral e demonizar grupos minoritários, corroem os pilares da democracia, transformando-a em uma mera disputa de poder.
À medida que nos aproximamos de uma eleição crucial, enfrentamos uma crise de confiança sem precedentes em nosso sistema político. O ressentimento e a desconfiança espalham-se como um veneno, ameaçando minar os alicerces da nossa democracia. Se desejamos preservar o espírito democrático de nossa nação, precisamos rejeitar o ódio e a divisão, abraçando a ideia de que todos merecem igualdade e justiça. Somente assim poderemos superar as adversidades e construir um futuro mais justo e inclusivo para todos os brasileiros.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores