Reflexões sobre o primeiro turno

Photo by Palmarí de Lucena
Reflexões sobre o primeiro turno

Clamando vitória da política, vereadores e prefeitos eleitos no primeiro turno, comemoram a aparente derrota do Bolsonarismo. Muitos deles candidatos do Centrao, grupo de partidos fisiologistas que mantem o Presidente em controle de uma agenda política de dogmatismo ideológico, personalismo e crescente descompasso com as prioridades do País, na saúde pública, proteção do meio ambiente, combate ao racismo e intolerável lumperização do povo brasileiro.

Resultados do primeiro turno favoreceram representantes de oligarquias e nepotismo eleitoral, os chamados candidatos da “direita de sobrenome”, aqueles com grande influência econômica ou familiar, capilaridade em redutos eleitorais controlados por dirigentes políticos, fidelizados por benesses dos Fundos Partidário e Eleitoral. Auto identificados como “anteparo da racionalidade” contra o “extremismo” Bolsonarista, apresentaram-se como alternativa ao “populismo ideológico”, pelo retorno da política. Estratégia bem-sucedida para reconstituir a balança do poder da elite, diante da surpreendente ascensão de uma extrema direita popular, de outra forma organizada por seus sócios menores e subalternos, milícias presenciais e digitais, membros do aparato de segurança, defensores da militarização do poder, empresários de atividades extrativistas não-sustentáveis e pastores evangélicos.

A nova política dos velhos políticos, almeja apresentar um “rosto mais humano” expresso na tentativa de integração de representantes dos setores mais sistematicamente violentados da população, negros, LGBT, indígenas, mulheres, sem comprometer-se a mudanças nas politicas públicas e prioridades socioeconômicas.  Opressão acumulada por estes setores, no entretanto, tem o potencial de galvanizar mobilizações populares pela transformação e maior representatividade no debate sobre questões nacionais.

Em 2013, o povo brasileiro provou mais uma vez que não é o gigante adormecido, temido pela oligarquia e oprimido com benesses de assistencialismo estatal politizado e tutela da população carente, como antídoto ao dissídio civil e a escolha educada dos seus representantes. Lamentavelmente, tentativas da direita oligárquica de demonizar as intenções destes grupos, com velhos chavões, uso da tática de reductio ad Stalinum, repressão a descontentamento cívico, oblitera o potencial da dissidência pacífica criar um clima genuíno de diálogo e mudanças, como aconteceu no Chile. Devemos sempre lembrar que a democracia é uma reunião que nunca termina…

Palmarí H. de Lucena, membro da UniãoBrasileira de Escritores  

Comentários

  • Marceleuze disse:

    Excelente crônica.
    Realmente, a eleição mais recente mostrou o poder de manipulação das oligarquias, o maniqueísmo de agentes de uma direita pseudo branda e o infinito grau de desinformação e pobreza intelectual da maioria dos eleitores.
    O atual poder central desagrada setores sensíveis da economia, por sua brutalidade e obtusidade ideológica.
    Mas, tbem não consegui enxergar clareza política nas escolhas de representantes municipais.

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