Redescobrindo a arte da tolerância

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Redescobrindo a arte da tolerância

Devemos aceitar o que se tornou óbvio, enquanto o Brasil cresce mais racialmente, culturalmente e fragmentado politicamente, diversidade não nos torna mais fortes ou unidos, como ativistas e políticos costumam proclamar, resultando talvez em maior polarização da sociedade, uma preocupante consequência não intencional.  Redescoberta da arte da tolerância é a grande esperança de retorno à coexistência civil.  

É quase impossível catalogar todos as face do multiculturismo nacional. Temos uma incontável diversidade de identidades: brancos, negros, pardos, povos indígenas, asiáticos, heterossexuais, lésbicas, gays, bi, trans, pan/poli, queer/questionando, intersexo, assexuais/arromânticas/agênero, não-binárias e mais. De maior significância, a diversidade de crenças: pró-escolha, antiaborto, direita religiosa, socialistas, nunca-PT/Lula, pro-intervenção militar, bolsonaristas, armamentistas, defensores de controle de armas, ativistas do meio-ambiente, defensores de combustíveis fósseis, protestantismo histórico, pentecostais, neopentecostais, católicos, judeus, muçulmanos, religiões de matriz africana e agnósticos, muitas outras estão surgindo ou prestes a surgir nos rejuntes do mosaico multicolorido da paisagem brasileira.  

Pessoas ocupando uma multiplicidade de grupos ou tendo dificuldade em encontrar um grupo específico, formam uma minoria barulhenta que nunca aceitará crenças alheias ou até mesmo o direito a expressar suas opiniões, tendo apenas em comum a fé inabalável da retitude das opiniões que defendem. Mal-entendida ou aceita cautelosamente, diversidade pode tornar-se pivô de desarmonia, solapando oportunidades de chegarmos a um consenso nacional ou pelo menos de dialogar sobre as diferenças que nos separam.

Parcela da população brasileira ainda hesita em aceitar que afrodescendentes e pessoas de cor, transformam aqueles identificados como brancos em uma crescente minoria, que embora historicamente privilegiada, podem perder espaço devido a mudanças demográficas e políticas públicas assegurando acesso igualitário as esferas do poder e a economia, como um todo.  Encasular-se em bolhas de identidades não é uma solução, o melhor caminho é recalibrar a visão de como uma sociedade multicultural, pode e deve ser construída. Podem até discordar ou mesmo temer mudanças, porém devem entender e aproveitar de novas oportunidades para tratar concidadãos com a mesma tolerância e respeito que esperam deles, em retorno.

Evangélicos devem repensar suas abordagens e objetivos políticos. Têm todo direito como cidadãos de participar em governos, exceto o direito de impor doutrina cristã em políticas publicas ou lapidar instituições laicas do estado democrático. Progressistas e não-religiosos também devem ajustar suas posições ser tolerantes com ideias que não concordam, mesmo que lhes ofendam. Se respeitarmos uns aos outros, poderemos redescobrir que o exercício da tolerância é a varinha mágica na construção de uma sociedade pacífica e produtiva, sem malefícios de batalhas culturais ou discurso de ódio.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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