Todos os anos, a indústria da televisão americana se reúne em uma celebração grandiosa para premiar os membros da Academia de Artes & Ciências Televisivas (ATAS), os tão esperados Prêmios Emmy. O evento é um verdadeiro espetáculo de autoglorificação: tapinhas nas costas, aplausos fervorosos e lágrimas sinceras – ou nem tanto. No final, o suspiro coletivo parece sempre o mesmo: a indústria sobreviveu a mais um ano.
Em 1970, a cerimônia dos Prêmios Emmy foi dividida em duas partes. Danny Thomas comandou a festa em Hollywood, enquanto David Frost, na vibrante Nova Iorque, ocupava o palco do Carnegie Hall. A porta entre a televisão e o cinema estava escancarada, e várias estrelas transitavam entre os dois mundos. Naquela noite, celebridades como Anna Bancroft e Angela Bassett, membros tanto da ATAS quanto da Academia de Cinema, foram ovacionadas.
Há uma tradição curiosa nos bastidores dessa cerimônia: produtores escolhem pessoas representativas da cidade para acompanharem as celebridades durante o evento. Alguns dias antes do show, fui informado de que seria o acompanhante de ninguém menos que Farrah Fawcett, a estrela de “As Panteras”. O pagamento? 150 dólares pelo serviço. O sindicato exigia a compensação, já que o trabalho voluntário não era permitido. Não hesitei em aceitar.
A tarefa, segundo a produção, era simples: chegar ao hotel quatro horas antes do início da cerimônia, anunciar-me na recepção e ficar à disposição da atriz até que ela fosse deixada no Carnegie Hall. Quando cheguei ao hotel, fui rapidamente levado ao seu quarto por sua assistente. Ao cruzar a porta, senti como se tivesse entrado em um campo de batalha caótico, onde manicures, massagistas, costureiros e cabeleireiros disputavam cada centímetro da cena.
Então, sem aviso, ela apareceu. Com seu icônico penteado e um sorriso largo, tipicamente texano, Farrah estendeu a mão: “Oi! Eu sou Farrah. Farrah Fawcett.” As apresentações foram rápidas, e o sorriso logo desapareceu. Com um tom assertivo, ela perguntou: “Onde está meu noivo, Lee Majors?” Sua voz era impaciente e ansiosa. Ela queria que ele chegasse antes do show, mas seu voo havia atrasado em Chicago. Imediatamente acionamos a produção. A resposta foi rápida e precisa: “No problem. O noivo já está a caminho.” O sorriso voltou ao rosto de Farrah, e o clima de tensão se dissipou.
Quando descemos juntos para o lobby do hotel, acompanhados de seu entourage, que parecia maior do que quando cheguei, fomos recebidos por uma enxurrada de flashes. “Fabulosa! Maravilhosa!” – nunca ouvi essas palavras tantas vezes em uma única noite. Autógrafos, fotos, perguntas indiscretas sobre o noivo. Foi então que notaram minha presença. De repente, olhares curiosos se voltaram para mim. “Quem é esse cara com Farrah Fawcett?”
Naquele momento, eu era alguém, sem que ninguém soubesse exatamente quem.
Ao final da noite, despedi-me com um aceno. “Goodbye, Farrah. May God bless you!”
Palmarí H. de Lucena – Nova Iorque 1970