O futebol africano chega à sua maturidade na Copa do Mundo 2010, África do Sul. Competindo com as melhores – ou pelos menos, as mais famosas seleções do globo. Raposas do Deserto da Argélia; os Leões Indomáveis dos Camarões; os Elefantes da Costa do Marfim; as Super Águias da Nigéria; as Estrelas Negras de Gana e os “boys” de Nelson Mandela, a Bafana Bafana da África do Sul, mundão africano… Respeitados, porém ausentes na lista dos favoritos para o pódio.
Hora de prestar atenção ao futebol africano e à África, muitas histórias por aqui. As Balas de Cobre da Zâmbia feriram mortalmente a Squadra Azzurra de Tachone, Carnevale e Baggio por 4 a 0, nas Olimpíadas de Seul. Les Bleus ainda não esquecerem que foram estraçalhados pelos Leões do Senegal por 1 a 0, na Copa do Mundo de 2002. As Super Águias da Nigéria paparam a Canarinha por 4 a 3 e depois La Albiceleste por 3 a 1, para conquistar a Medalha de Ouro dos Jogos Olímpicos de Atenas. Partidas complicadas, resultados surpreendentes. Na África do Sul, duas dessas equipes africanas vão estar presentes. Felizmente, as Zebras da Botsuana não conseguiram classificar-se, teríamos muito mais zebras às soltas…
Indicativo maior das tragédias e triunfos do futebol africano é a história das Balas de Cobre da Zâmbia…
Terrível acidente aéreo matou dezoito jogadores da Seleção Nacional da Zâmbia, em 28 de abril de 1993. Viajavam rumo ao Senegal. Competiriam nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. Usavam um avião militar obsoleto, sem meios para financiar transporte comercial. Kalusha Bwalya, o herói da “zebra” contra a Itália, havia escapado. Astro da equipe e jogador do PSV da Holanda, companheiro de Romário, seu clube havia insistido que o jogador viajasse direto da Holanda para o Senegal, em vôo comercial. Sobreviveu para liderar a equipe, totalmente reformulada, perdendo a classificação para o Marrocos, durante as eliminatórias, por apenas um gol.
Grupo de jovens atletas conversava animadamente no lobby do Hotel Taj de Lusaka. Homem mais velho se aproxima com passos pausados, como se fosse bater um pênalti. Lobby em silêncio. Fala em voz baixa, parecendo dar instruções ou compartindo algo importante. Clima de expectativa. Perguntamos à recepcionista, quem era o homem. Olhar de surpresa e incredulidade. “Não conhece o grande Geart Kalu”, o Kalusha Bwalya do PSV da Holanda e o herói do futebol nacional? Ficamos embaraçados. O ano era 2004, a Chipolopolo estava concentrada no hotel. Partida contra a Libéria, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.
Encontramos com Geart Kalu, no mesmo dia. Conversamos sobre o futebol zambiano. Estava preocupado com a situação econômica do país e a repercussão no desempenho da seleção. Confesso admirador do futebol brasileiro e de Romário, seu ex-companheiro no PSV. Lembrou que Godfrey Kangwa, meio campista que havia morrido no desastre aéreo de 1993, foi apelidado de Dunga pelos torcedores, por seu espírito de liderança. Convidou-nos para assistir a partida.
Chegamos ao estádio em meio de uma barulheira infernal e alegria contagiante. Parecia que o país inteiro estava presente para observar mais um milagre de Geart Kalu. Quase no final do segundo tempo, anunciaram a entrada do astro. Delírio no estádio. Subitamente, o placar mudou. Chipolopolo da Zâmbia venceu a Estrela Solitária da Libéria por 1 a 0, com um gol nos momentos finais da partida, na sua ultima partida como jogador. Aposentou-se como técnico da seleção em 2006. Presente na África do Sul, como um dos embaixadores da FIFA.
Os grandes que se cuidem, ainda há muita zebra na planície… ‘
África do Sul 2010