Há um silêncio incômodo nas lojas de telefonia. Silêncio que não é inocente, nem casual — é estrutural. No país onde mais se rouba celulares no mundo, as operadoras continuam tratando o problema como se não fosse delas. E, no fundo, é exatamente assim que preferem: quanto mais celulares somem, mais celulares se vendem.
Enquanto a Polícia Civil, em vários estados, comprova que é possível recuperar aparelhos roubados — desde que o cidadão tenha informações básicas como IMEI, nota fiscal e boletim de ocorrência bem instruído —, as operadoras seguem omissas. No balcão de vendas, sobra empenho para oferecer pacotes, planos, aplicativos e capas coloridas. Mas falta o essencial: orientar o consumidor sobre como proteger seu patrimônio.
Guardar o IMEI, a nota fiscal e a caixa original não é detalhe. É ato de cidadania. É seguro contra prejuízo, contra roubo, contra a indústria do descaso. E, no entanto, essa informação quase nunca chega ao cliente. Não por acaso.
O problema não é só negligência. É modelo de negócio. O furto, aqui, não é tragédia — é oportunidade de mercado. Cada celular roubado vira uma nova venda. E a engrenagem gira, indiferente às estatísticas da violência e do sofrimento alheio.
Por isso, este manifesto não se dirige apenas às operadoras. Ele convoca o Poder Público — legisladores, agências reguladoras e órgãos de defesa do consumidor — a romper com essa lógica perversa. É urgente que se estabeleçam regras claras, objetivas e obrigatórias.
É dever das operadoras, no ato da venda, informar o consumidor sobre a importância do IMEI, da nota fiscal e dos dados do aparelho para garantir a possibilidade de recuperação em caso de roubo ou perda. É dever fornecer, física ou digitalmente, orientações claras sobre como registrar um boletim de ocorrência efetivo e colaborar com a Polícia Civil. E é dever do Estado fiscalizar e punir quem se omite.
Informação não é cortesia — é segurança. E omissão, nesse contexto, é cumplicidade.
Se o mercado não quer se autorregular, que a lei o faça. Porque não podemos mais aceitar que o crime alimente o faturamento, e que o prejuízo do cidadão se transforme em bonificação para quem fecha os olhos.
É hora de quebrar o ciclo. É hora de colocar a cidadania acima do faturamento.
Por Palmarí H. de Lucena