Quando a Incerteza se Torna Política: O Legado de Trump nas Tarifas e na Economia

Quando a Incerteza se Torna Política: O Legado de Trump nas Tarifas e na Economia


No mundo da economia globalizada, poucas coisas assustam mais do que a incerteza — sobretudo quando ela é fabricada por quem deveria reduzi-la. Como bem observa a jornalista Jasmine Cui, em reportagem recente, “a agenda tarifária do presidente Donald Trump jogou o mundo financeiro num redemoinho”, transformando um instrumento de política comercial em um gerador sistemático de ruído, confusão e retração.

Desde o início da escalada tarifária, com foco especial na China, o movimento pendular de decisões — ora ameaças, ora recuos — expôs mercados, empresas e consumidores a um ambiente de absoluta imprevisibilidade. Não foram apenas os números das bolsas que oscilaram; foi a própria confiança que se esfarelou. Como registra Cui, “investidores fugiram das ações americanas em busca de terrenos mais estáveis”, enquanto os principais indicadores de risco disparavam.

O Índice de Incerteza de Política Econômica (EPU), desenvolvido por pesquisadores de Stanford e Northwestern, é uma dessas bússolas que medem o desconforto global. Em março, atingiu patamares que não se viam desde os primeiros meses da pandemia de Covid-19. Kevin L. Kliesen, economista do Federal Reserve de St. Louis, não poupou palavras: “É um aumento historicamente sem precedentes”.

A lógica da retração é quase automática. Empresas adiam investimentos. Consumidores recuam diante de gastos maiores. E, como adverte o professor Menzie Chinn, da Universidade de Wisconsin, o medo de uma recessão torna qualquer estímulo inócuo. A queda nos juros, que poderia impulsionar o setor imobiliário, esbarra no receio de uma possível desvalorização dos imóveis — “as pessoas estão maximamente confusas”, diz ele.

Essa espiral de dúvida não poupou nem mesmo o mercado de títulos. Os Treasuries, tradicionalmente vistos como porto seguro em tempos turbulentos, começaram a ser vendidos em massa. Os rendimentos dos títulos de 10 anos ultrapassaram os 4,5%, contrariando a lógica dos ciclos econômicos. Até o que era refúgio virou risco.

Em 7 de abril, um único post enganoso na plataforma X (antigo Twitter), sugerindo que Trump cogitava pausar as tarifas, foi suficiente para impulsionar as bolsas. Minutos depois, desmentido pela Casa Branca, o mesmo mercado mergulhou. A volatilidade havia se tornado regra. E mesmo quando Trump realmente anunciou a suspensão de algumas tarifas, como relata Jasmine Cui, “as ações caíram no dia seguinte” — já não havia espaço para confiança.

Não é surpresa que Jamie Dimon (JPMorgan Chase) e Larry Fink (BlackRock) tenham feito coro contra o ambiente caótico. “Temos a economia mais forte do mundo”, disse Dimon à Fox Business. “Seria bom não adicionar mais incerteza.” Para ele, uma recessão não é mais hipótese distante — é desfecho provável.

O governo Trump parece ter confundido negociação com chantagem e política econômica com improviso performático. Em vez de previsibilidade, optou por sustos sucessivos. E como mostra o texto de Jasmine Cui, não foram as tarifas em si que causaram maior dano, mas a forma errática com que foram conduzidas. A economia, afinal, responde mal ao ruído — sobretudo quando vem de cima.

Mais que um ciclo de tarifas, o que vivemos foi um experimento com os limites da confiança. E a lição, amarga, permanece: sem clareza, não há crescimento; sem estabilidade, não há futuro.

Palmarí H. de Lucena