Costa Rica, pequena e pacífica. Esquina tranquila. Imune às guerras civis que punham em risco o futuro da região. Lugar básico, sem grandes complexidades ou desafios. Terra do diminutivo. Expressavam-se nos chamados tiquismos – sempre um “poquitito” ou um “minutito” de algo ou de alguém. A narrativa só mudava quando o assunto era a democracia. Venerada e defendida energicamente, sempre com superlativos e hipérboles. A expressão “pura vida”, repetida constantemente, unia-se a todos os sentimentos de orgulho cívico e patriotismo costarriquense.
Terra de contradições. O exercito foi abolido em 1948, pelo presidente da junta revolucionário estabelecida pelos vencedores de uma sangrenta guerra civil. A guarda nacional e a rural são as únicas forças uniformizadas. Os membros do legislativo unicameral são eleitos por um termo de quatro anos. Dois partidos políticos; Liberação Nacional e a Democracia Cristã comandam mais de 95% dos votos. Os revolucionários haviam criado uma cultura de civismo e comportamento democrático, sem usar a força do fuzil.
Chegamos durante o período eleitoral de 1985. As campanhas partidárias lembravam-nos de torcidas organizadas. Voluntários aglomerados nas esquinas e ruas distribuíam propaganda politica, acenavam bandeiras, cantavam. Vestidos em verde e branco ou em vermelho e azul. Todos os membros da família participam. Disneylândia democrática. Depois das eleições, o povo se retiraria às suas casas. Tudo voltaria ao normal. Deixariam os eleitos governar, sem animosidade pessoal entre os vencedores e os derrotados. O importante era preservar a democracia.
Milton Nascimento referiu-se a Costa Rica, como a terra do coração civil. Desejando o mesmo para o Brasil. “[…] Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço […]”.
A Costa Rica, democrática e desarmada, corria o risco de ser dragada pela escalada dos conflitos militares e pela instabilidade política na região. Oscar Arias Sanchez assumiu a presidência de Costa Rica, em 1986, propondo Imediatamente uma solução pacífica para os conflitos. O Plano de Paz Arias de 1987 criou um marco contextual para negociações, democratização, desmilitarização e reconciliação. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1987.
Precisávamos mobilizar o apoio dos bispos católicos norte-americanos, em contrapeso às políticas intervencionistas do governo do Presidente Reagan. Movemos rápido. Delegação da agencia de ajuda humanitária católica, apoiou explicitamente o processo de paz e comprometeram-se a dar apoio financeiro e logístico às comissões de paz e reconciliação nacional, presididas pela Igreja Católica. Éramos parceiros na busca pela paz.
Partimos em 1989, o processo de paz estava engatilhado. Os fuzis silenciaram anos depois. A paz e a civilidade venceram. “Pura vida!”