Enquanto esperamos impacientemente pelo fim da pandemia, um avalanche de produtos ou regimes sem comprovação científica ameaçam nossa saúde, enquanto celebridades promovem ou prestam depoimentos sobre melhorias no bem-estar dos usuários. Entre aqueles beneficiando-se deste novo ramo de negócio, encontram-se Steve Bannon, guru da extrema direita, promovendo vitaminas de questionável eficácia e a atriz Gwyneth Paltrow, vencedora do Oscar, que comercializa produtos alternativos para a saúde da mulher, a exemplo de velas de flagrância vaginal rotuladas “This Smells Like My Vagina” por 75 dólares, através do site Goop, hoje um gigante do comércio eletrônico.
Gurus do bem-estar sucederam em identificar alvos fáceis para seus produtos e filosofia da “New Age”, principalmente entre a população feminina dos Estados Unidos, devido desencantamento com o sistema de saúde disfuncional do País e o enfoque na margem de lucro de serviços médico-hospitalares. Com a crise do corona vírus, estes pseudoespecialistas continuam usando as mesmas plataformas responsáveis pela disseminação de “fake news”, surfando as ondas de medo e pânico causadas pela doença, como uma brecha para direcionar o público a tratamentos inadequados, sem nenhuma base cientifíca, muitas vezes ameaças reais a saúde da população.
Navegando nas águas turvas do falso bem-estar, Steve Bannon, o pôster-boy da extrema direita e autoproclamado “guerreiro do bem-estar”, comercializa suplementos vitamínicos do chamado Pacote de Defesa da Sala de Guerra com o jargão “Você não pode lutar se está doente!” Apesar de sua Página Web não sugerir especificamente o produto para a cura covid-19, suas implicações levaram o Departamento de Justiça dos Estados Unidos a mover uma ação contra a Wellness Warrior.
A modelo Elle Macpherson, assumiu o papel de porta-voz das ideias antivacinas do Dr. Andrew Wakefield, que tem alegado que a vacina contra sarampo provoca o autismo. Desde então, a Grã-Bretanha baniu o médico da prática de medicina, devido a “múltiplas instâncias separadas de má conduta profissional.” Quando a Pfizer e outras empresas anunciaram vacinas contra covid-19, a modelo transformada em especialista de bem-estar, apareceu em palcos nos Estados Unidos para promover a campanha antivacinas do Dr. Wakefield. Quando não esta promovendo misinformação sobre vacinas, a modelo ocupa-se de comercializar produtos alternativos da marca WelleCo.
Pseudoespecialistas alegam que nossos organismos estão contaminados por toxinas insidiosas e desiquilíbrios biológicos que só eles podem curar, criando também falsas doenças como “fadiga adrenal”, que vêm com curas não comprovadas envolvendo uma abundância de testes de laboratório e “smoothies”. Todos queremos nos sentir bem e ter acesso a profissionais qualificados para cuidar dos nossos organismos, de uma maneira que fortaleça e valide esforços para melhorar nossa saúde e bem-estar. O que não necessitamos é de pseudoespecialistas manipulando nossas frustações e medos da pandemia para beneficio próprio, interesses espúrios e enriquecimento.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores
Realmente. Existe uma situação objetiva de medo. Medo da doença, transfigurado em medo das outras pessoas, das embalagens de produtos, das prateleiras, balcões e assentos, em qualquer lugar, medo…
Navegando nesta insegurança, a indústria do terror e dos pseudo tratamentos, tem clientela garantida.
cada uma! todo mundo se aproveitando de pandemia. e há um público para essa gente e eles sabem.
Estes pseudoespecialistas estão em todo lugar — e principalmente na grande mídia. A começar pelo tal Átila Tamarindo.
Se pararmos para pensar bem a própria psiquiatria, mesmo a atual, é em boa parte uma pseudociência gerida por pseudoespecialistas. Se antigamente atribuía a muitos males mentais o desequilíbrio de “humores”, hoje atribui a esses males — como por exemplo a depressão — a “desequilíbrio de hormônios”. Exceto que magicamente esse desequilíbrio não pode ser detectado por nenhum teste ou exame.