Próximo vídeo Isabela!

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Próximo vídeo Isabela!

Debates da CPI da Covid-19 adicionam insulto ao agravo de passar uns dias convalescendo da doença, observando um espetáculo disfuncionalmente parlamentar da busca da verdade sobre a crise sanitária que nos assola, propor políticas públicas para o enfrentamento de eventos desta magnitude. Após manobras espúrias, tentativas de obstrução, troca de cavalos partidários alimentados pelo feno do fisiologismo e narrativas acrimoniosas, conseguiram escalar o escrete parlamentar que conduziria os trabalhos: um “cartola” da velha cepa adepto ao gesto simpático e tapinha nas costas, um ficha suja reciclado como o novo malvado favorito na relatoria e um entusiástico jovem parlamentar despido do excesso de bagagem da velha política. Quatro parlamentares independentes ou da oposição consolidaram o elenco majoritário da CPI.

Completando a peça trágica, um coro grego de homens brancos esparramando elogios,  lamentações e insights sobre aqueles testemunhando ou sendo investigados. Atos de incompetência e arbitrariedades do Presidente, frutos de abricó de macaco pendurados nos frágeis galhos do analfabetismo democrático e autopromoção, espalhando o fedor das frutas no ar rarefeito do planalto central. Belas frutas e flores quando ainda inteiros, fedorentos e feios quando abertos. Era só esperar um pouco, para um deles se abrir…

Demonstrando ensaiada indignação com corrupção no uso de verbas, senadores governistas atiçavam e denunciavam chicanices de políticos, muito deles velhos parceiros em questionáveis práticas eleitorais e atos de corrupção, como uma cortina de fumaça para proteger aqueles cometendo o mais grave dos crimes: atentado contra as instituições do Estado Democrático de Direito e a saúde do povo brasileiro. Três senadores sentados a mesa diretiva, com dois espaços para depoentes, diante de fileira de mesas com computadores abrigando uma mistura eclética de homens medíocres, parlamentares experientes, políticos de fisionomias ordinárias ginetiando por um lugar sombreado na arena da demagogia. Alguns preferiam aparecer virtualmente.

A CPI transformou-se em um faroeste espaguete: o Bom, o Mal e o Feio, estrelado por um grupo de personagens paradoxais, Unicórnio, Morcego Relutante, Soldado de Lata e o Leão Covarde. Corajosos ofereceram informações e fatos consolidados do negacionismo e virulência da ignorância do Presidente, os menos nobres se esconderam atrás de jargão burocrático, desculpas cozidas por advogados e hipérbole para justificar atos de barbárie sanitária, ofuscando o Art. 196 da Constituiçao Federal. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Próximo vídeo Isabela! Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Zezita de Matos disse:

    Este é mais um quadro deprimente da História do Brasil . Infelizmente Palmari.

  • Marceleuze disse:

    O título desta crônica me despertou a memória de um livro escrito pelo deputado Francisco Julião, à época, prisioneiro da Ditadura. “Até Quarta, Isabela”. (este era o dia da semana, em que recebia a visita de sua filha criança).
    O tema do seu texto é outro, mas para mim ficou a lembrança de uma situação de desamparo e arbitrariedade, em que vive uma sociedade.
    Numa época em que alguém se arvora em censor da imprensa, ou um seu preposto edita um Índex para obras literárias, as similaridades não são discretas.

  • Ricardo Lyra Guimarães disse:

    Palmari
    Lamentando isso tudo, indignado, sigo com alguma esperança lá no fundo do coração que ainda bate!
    Abraço.

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