Democracia racial, um dos mitos mais duradouros da sociedade brasileira. Negado enfaticamente pela maioria da população, preconceito racial é visto como algo estrangeiro ou distante, embora todos admitam conhecer algum racista. Entre meus melhores amigos encontram-se negros, é uma desculpa usada frequentemente para maquiar atitudes racistas ou preconceituosas. Evidência sugere o contrário, o racismo é tão brasileiro como a feijoada, o samba e a cachaça. Representando mais da metade da população, afro-brasileiros figuram entre as principais vítimas da violência, têm o menor grau de escolaridade, os menores salários, a maior taxa de desemprego e uma participação minoritária na economia do País, 20% do PIB.
Precariamente representados nos Três Poderes, setor privado ou na mídia eletrônica, sucesso como jogadores de futebol e na música popular é usado para mitigar críticas de organismos internacionais, organizações não-governamentais e entidades religiosas. Hierarquias raciais são culturalmente aceitas como normais em alguns órgãos do Estado. Estrutural e institucionalizado, o racismo permeia todas as áreas da vida, nos revela um relatório da ONU.
De acordo com a UNICEF, o Brasil é o vice-campeão mundial no número de homicídios de jovens até 19 anos. Constatando e anunciando ao mesmo tempo, o Mapa da Violência de 2014, mostra a cruel realidade da descriminação racial e marginalização de gerações de adolescentes negros. Oprimido servindo como seu próprio opressor, transformando-se na nêmese de sua própria gente, o jovem negro tem três vezes mais chances de ser morto do que o branco.
Autos de resistência, álibi usado frequentemente para isentarpoliciaisque agem de forma violenta, fomentam um clima dedesconfiança e impunidade na segurança pública. Brutalidade policial é denunciada frequentemente pela mídia e a sociedade civil, poucos dos suspeitos são julgados, muito menos condenados. Transformação do modelo militarizado da polícia em uma estrutura democrática sob o controle civil é um passo fundamental na criação de uma sociedade igualitária. Fim de abordagenspoliciaisbaseadas emperfis raciais, faixa etária e aparência física, seria um passo crucial nas relações entre a cidadania e policiais. Políticas de segurança enfocando a dicotomia do nós-contra-eles, aocupaçãodecomunidades e controle de manifestações obtêm resultados na manutenção da ordem pública cujos efeitos nem são duradouros ou sustentáveis sem o uso desproporcional do aparato militar e a deterioração da imagem das forças de segurança,
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores