Post-mortem do show de Madonna

Photo by Palmarí H. de Lucena
Post-mortem do show de Madonna

Em meio às festividades e aos holofotes que iluminam o espetáculo de Madonna em Copacabana, onde o dinheiro parece fluir como a música que ecoa pela praia, emerge um contraste marcante com os desafios enfrentados a milhares de quilômetros de distância. A celebração na capital carioca, envolvendo uma quantia vultosa de R$ 60 milhões — sendo R$ 20 milhões públicos (Estado e Prefeitura do Rio de Janeiro) ocorre paralelamente às chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul, que deixam um rastro de destruição e desolação.

Enquanto 1,6 milhão de pessoas se reuniam ao som de uma das maiores artistas pop do mundo, muitos no sul do país enfrentavam as adversidades impostas por uma natureza indomável. A situação ganha contornos ainda mais complexos com a notícia de uma possível doação de R$ 10 milhões por parte de Madonna às vítimas das enchentes, uma informação que, até o momento, carece de confirmação oficial, conforme apontam fontes como a CNN Brasil e o portal Terra.

Este cenário bifurcado evoca reflexões profundas sobre as prioridades de nossos governantes e da própria sociedade. Por um lado, temos a promoção da cultura e do turismo através de grandes eventos, que indubitavelmente trazem benefícios econômicos e elevam o moral da população. Por outro, confrontamos a realidade de calamidades que exigem respostas rápidas e eficazes, colocando em xeque a alocação de recursos públicos.

A questão que se impõe é complexa: como equilibrar a celebração da arte e cultura com a resposta imediata às necessidades prementes de uma parcela da população em crise? A gestão de fundos públicos, especialmente em situações de emergência, é um tema que requer deliberação cuidadosa e transparente, sob pena de alimentar a percepção de descaso com o sofrimento alheio.

Ainda que a generosidade de Madonna, se confirmada, represente um gesto louvável, ela também lança luz sobre a responsabilidade compartilhada entre personalidades influentes, cidadãos e governos. Em um mundo ideal, a solidariedade e a empatia não deveriam emergir somente após catástrofes, mas ser parte integrante de todas as nossas festividades e comemorações.

Em conclusão, o post mortem deste evento sugere uma reflexão necessária sobre os critérios usados para a alocação de recursos públicos em eventos culturais, a comunicação entre os organizadores e o público, e o impacto duradouro dessas decisões na imagem e na realidade socioeconômica do local. Estes aprendizados podem orientar futuras decisões em um contexto de crescente escrutínio público e demanda por governança responsável e sensível às realidades sociais.

Assim, enquanto o debate sobre o show de Madonna e seus desdobramentos continua a fervilhar nas redes sociais e além, resta-nos ponderar sobre o que realmente valorizamos como sociedade e como podemos harmonizar nossos anseios de festa com as demandas urgentes de compaixão e apoio.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Marceleuze disse:

    Tão longe quanto eu sei, não houve desembolso de dinheiro público para o Show de Madonna. Itaú e Heineken, pagaram a conta.
    A hecatombe climática generalizada, representada por enchentes, estiagens, desertificações, é a “crônica de uma morte anunciada”. Ou os grandes conglomerados econômicos mundiais cessam a destruição da Natureza, ou o aquecimento global dará cabo da Vida na Terra.
    O RGS foi advertido com antecedência,
    mas a governança havia flexibilizado a legislação ambiental.

  • Palmarí H. de Lucena disse:

    O Estado e Prefeitura do Rio contribuiram R$20 milhoes para o show. O Governo Federal não contribuiu nada!!!

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