Anúncio que negociadores na COP 27 haviam chegado a um acordo para o estabelecimento de um fundo global para compensar os países mais pobres por danos causados por mudanças climáticas, foi comemorado como um importante conquista pelos ativistas do clima. Acordo que também pode servir como incentivo para campanhas de partidos populistas de viés anti-verde.
Justificação de um fundo para compensar “perdas e danos” ambientais é simples e direta, responsabilizar países desenvolvidos que provocaram aquecimento planetário, emitindo gases estufa na atmosfera por mais de um século. Problema agravado pelo aumento continuado de emissões de carbono globais, provocando aumentos do nível do mar, causando inundações destrutivas, intensificando outros problemas ambientais em países sem recursos financeiros para mitigar danos por eles causados. Consequentemente, as partes responsáveis terão que assumir o custo da reparação.
O fundo parece uma boa ideia, até que seu custo seja precificado, que segundo o negociador norte-americano, John F. Kerry pode alcançar trilhões de dólares. É simplesmente irrealista, que eleitores de países desenvolvidos estejam dispostos a transferir tais quantias dos seus tesouros para os países mais pobres do mundo. Generosidade que vai contra tudo aquilo que eleições democráticas nos ensinaram no século passado sobre o comportamento de eleitores.
Eleitores em qualquer país dão prioridade ao seu próprio bem-estar econômico. Fato se estamos falando de impostos ou sobre grandes questões macroeconômicas como aumento de impostos ou taxas de juro para combater a inflação, daí a popularidade de algumas mensagens de tributar os “mais ricos” como uma forma de financiar programas de transferência de renda para os mais pobres. É mais provável que aceitem tributar pagamento da previdência social para manter o sistema solvente e relevante aos seus interesses.
Proposta de um fundo de compensação por mudanças climáticas, fere os dois princípios. Tributária todos nos países desenvolvidos para pagar gastos em outros países muito longes deles, milhares de quilômetros distantes. Tipo de proposta que seria uma péssima opção em uma campanha política, qualquer rebelião política beneficiaria partidos negacionistas ou isolacionistas, que simplesmente explorariam descontentamento do contribuinte, sem apresentar nenhuma proposta sobre o tema de mudanças climáticas ou como ajudar países mais pobres em combater desastres associados com o fenômeno.
Mudanças climáticas constituem um grave desafio a estabilidade política e segurança do mundo, como um todo. Ativistas do clima e seus aliados políticos não têm sido bem-sucedidos em convencer o publico que se deve fazer sacrifícios significativos no padrão de vida, para enfrentar a ameaça do aquecimento global. Pressionar tais políticas, sem primeiro obter o apoio da população, é uma receita certa para o crescimento do populismo de viés ultranacionalista, xenofóbico e negacionista de mudanças climáticas. Daí a necessidade do novo governo brasileiro de optar por uma dosimetria nas políticas públicas, que impacte não só biodiversidades da Amazônia, como também interesses legítimos de partes interessadas no desenvolvimento sustentável da região.
Palmarí H. de Lucena, membro de União Brasileira de Escritores