Política como negócio de família

CONFHIC, São José 2015
Política como negócio de família

Perpetuando famílias no poder, o nepotismo eleitoral figura entres as causas principais do atoleiro ético e moral, debilitando a democracia brasileira, obliterando toda e qualquer possibilidade de uma reforma política e modernização das instituições. Reproduzindo estruturas político-partidárias por gerações, privilegiando um criadouro de possíveis abusos do poder econômico, mantendo o patrimonialismo, dinheiro e sobrenome contribuem para a manutenção do poder eleitoral, abrindo janelas de oportunidade às práticas corruptas, deslizes éticos e conflito de interesses.

A vitória eleitoral de um candidato, principalmente no Legislativo, é alicerçada pelo capital político herdado e acesso aos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, já que as doações empresariais de campanha estão proibidas, por decisão do STF. Recentes reformas eleitorais, no entretanto, não impedem a influência do poder econômico nas eleições, pelo contrário, dá mais poder às oligarquias políticas que controlam o funcionamento interno dos partidos e a alocação de recursos de emendas parlamentares, para financiar projetos em suas áreas de influência política.

 Segundo um estudo da Transparência Brasil, “A transferência de poder de uma geração a outra de uma mesma família tanto é uma forma de manter no cenário político figuras tradicionais já desgastadas – muitas das quais chegam a ser rejeitadas pelas urnas – como uma maneira de perpetuar práticas políticas arcaicas, que garantem a defesa dos interesses de determinados grupos locais e dificultam mudanças.”

Proliferação de rodovias, hospitais, escolas e logradouros públicos com nomes de parentes de políticos, mesmo quando os homenageados não exerceram atividades relevantes, é um dos exemplos mais representativos da privatização da coisa pública para prestigiar familiares de políticos e seus herdeiros. Nepotismo eleitoral é parte do atraso e falta de mudanças no Nordeste, que encabeça a lista das regiões com maior percentual, com 63% de herdeiros políticos no país.

O Brasil é uma república do nepotismo, quando consideramos a prática como uma relação entre parentesco e poder político. Influência difusa do nepotismo eleitoral permite desigualdade entre candidatos, quando igualdade de condições é essencial para assegurar eleições limpas e justas. Listas de candidatos são verdadeiras arvores genealógicas ou combinações de interesses entre oligarquias políticas. Prefeitos inabilitados para reeleição, simplesmente arquitetam a nomeação de cônjuges ou parentes para substitui-los, usando empenhos ou obras de maior tração eleitoral para alavancar suas candidaturas. Nepotismo eleitoral é um prática antidemocrática, que deve ser rejeitada pelos eleitores e a sociedade como um todo.

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Lunara disse:

    Texto top.
    Tão nossa realidade e infelizmente poucos de nós abrimos os olhos as tantas informações.

  • João Justino disse:

    O nepotismo é nefasto p a nossa política, e tbm a simbiose entre o público e o privado.

  • Diegoamaral disse:

    Resumindo nós que colocamos os políticos em seu devidos cargos não temos coragem de cobrar a eles oque foi prometido ou seja não temos voz ativa

  • regina disse:

    acho impossível que se consiga livrar dessa praga do nepotismo. é uma cultura, no nordeste, mas ocorre em quase todo o país. desanimador. essa gente é reeleita , muitas vezes, e vão inserindo a família aos poucos. o exemplo está na PR

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