Perpetuando famílias no poder, o nepotismo eleitoral figura entre as principais causas do atoleiro ético e moral, enfraquecendo a democracia brasileira e impossibilitando qualquer possibilidade de reforma política e modernização das instituições. A reprodução de estruturas político-partidárias ao longo de gerações privilegia um ambiente propício para abusos do poder econômico, mantendo o patrimonialismo. O dinheiro e os sobrenomes contribuem para a manutenção do poder eleitoral, abrindo portas para práticas corruptas, deslizes éticos e conflitos de interesses.
A vitória eleitoral de um candidato, principalmente no Legislativo, é sustentada pelo capital político herdado e pelo acesso aos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, uma vez que as doações empresariais de campanha estão proibidas por decisão do STF, no entanto, recentes reformas eleitorais não impedem a influência do poder econômico nas eleições. Ao contrário, fortalecem as oligarquias políticas que controlam o funcionamento interno dos partidos e a alocação de recursos das emendas parlamentares para financiar projetos em suas áreas de influência política.
De acordo com um estudo da Transparência Brasil, “A transferência de poder de uma geração para outra dentro da mesma família é tanto uma maneira de manter no cenário político figuras tradicionais já desgastadas – muitas das quais são rejeitadas pelas urnas – quanto uma maneira de perpetuar práticas políticas ultrapassadas, que garantem a defesa dos interesses de determinados grupos locais e dificultam mudanças.”
A proliferação de rodovias, hospitais, escolas e espaços públicos com nomes de parentes de políticos, mesmo quando os homenageados não exerceram atividades relevantes, é um dos exemplos mais representativos da privatização do bem público para beneficiar familiares de políticos e seus herdeiros. O nepotismo eleitoral faz parte do atraso e da falta de mudanças no Nordeste, que lidera a lista das regiões com maior percentual de herdeiros políticos no país, atingindo a marca de 63%.
As listas de candidatos se assemelham a verdadeiras árvores genealógicas ou combinações de interesses entre as oligarquias políticas. Prefeitos inabilitados para a reeleição simplesmente planejam a nomeação de cônjuges ou parentes para substituí-los, utilizando projetos de maior popularidade para impulsionar suas candidaturas
O Brasil tornou-se uma república do nepotismo quando consideramos essa prática como uma relação entre parentesco e poder político. A influência difusa do nepotismo eleitoral permite uma desigualdade entre os candidatos, sendo que a igualdade de condições é essencial para garantir eleições limpas e justas. . O nepotismo eleitoral é uma prática antidemocrática que deve ser rejeitada pelos eleitores e pela sociedade como um todo.
Palmarí H. de Lucena