Polarização brasileira para exportação

Polarização brasileira para exportação

Recentemente, o governo brasileiro expressou seu descontentamento em relação à Venezuela, demonstrando preocupação com a exclusão de Corina Yoris, candidata da oposição, das eleições. No entanto, essa crítica isolada parece mais uma encenação do que um genuíno apoio à democracia naquele país. O Itamaraty emitiu uma declaração de “preocupação” após Caracas vetar a inscrição de Yoris, seguida pela manifestação do Presidente Lula, que classificou o incidente como “grave”. Contudo, ambos os gestos parecem carecer de uma genuína defesa dos princípios democráticos.

Corina Yoris era apenas uma substituta de María Corina Machado, líder nas pesquisas e impedida de concorrer pelo Judiciário chavista. O governo brasileiro condenou as sanções internacionais contra Maduro, mas foi hesitante em criticar o próprio regime, sugerindo que as eleições poderiam fortalecer a democracia, mesmo sendo injustas desde o início. Essa atitude contraditória reflete a relutância do Presidente Lula em confrontar a realidade sombria do regime venezuelano. Mesmo diante da exclusão sistemática de opositores, o presidente permaneceu tranquilo, equiparando o processo judicial que inabilitou María Corina ao seu próprio caso em 2018.

É evidente que a preocupação do governo brasileiro não está na defesa dos princípios democráticos, mas sim na conveniência política e eleitoral. As declarações ambíguas do Presidente Lula sobre Maduro ecoam seu apoio tácito ao regime chavista, ignorando suas violações aos direitos humanos e à democracia.

A população brasileira está cansada de ver o governo se aliar a regimes autocráticos, começando pela subserviência de Jair Bolsonaro a líderes como Vladimir Putin, Viktor Orbán, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, e a recente demonstração de entusiasmo do partido do governo com a questionada reeleição de Vladimir Putin, o silêncio sobre violações de direitos humanos em países do Sul Global, a exemplo do Sudão, e o cinismo sobre a suposta neutralidade à agressão da Rússia contra a Ucrânia, posição adotada pelos dois lados da polaridade brasileira, reforçando a visão de que a crítica à Venezuela é apenas a continuação de mais uma peça de teatro político baseada na polarização brasileira.

No que diz respeito a Nicolás Maduro, as críticas superficiais do governo brasileiro à situação na Venezuela são meros gestos políticos, destituídos de uma verdadeira preocupação com os direitos do povo venezuelano. Enquanto isso, o Presidente Lula e seu governo permanecem distantes da realidade daquele país. Pronunciamentos recentes do presidente sobre a Venezuela parecem mais uma tentativa desesperada de salvar sua imagem do que um compromisso genuíno com a democracia.

Além disso, é importante ressaltar que o impedimento à candidatura de Yoris “não é compatível com o Acordo de Barbados”. Essa referência ao acordo firmado no ano passado estabelece garantias políticas para eleições livres na Venezuela, tornando a exclusão de Yoris uma violação direta dessas garantias e, portanto, um ato que merece uma resposta mais contundente e consistente por parte do governo brasileiro e da comunidade internacional como um todo.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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