Em Pilõezinhos, cada centímetro de solo parece sussurrar histórias antigas, entrelaçadas nas raízes profundas da terra brasileira. Esse pequeno município, cujas origens remontam aos primórdios da ocupação humana em nosso país, revela um passado que transcende as meras cronologias, oferecendo uma narrativa rica em cultura e tradição.
Inicialmente habitada pelos índios Aratus, Cariris e Potiguaras, a região de Pilõezinhos foi palco de uma simbiose harmoniosa entre o homem e a natureza. A produção de cerâmica e cestaria, bem como o cultivo de milho, feijão, mandioca e amendoim, eram mais do que simples atividades econômicas — eram a expressão de uma cultura vibrante, um reflexo da alma desses povos originários. Muito antes da chegada dos portugueses, por volta de 1400, esses indígenas já haviam deixado marcas profundas que ainda hoje ressoam na identidade local.
A chegada dos colonizadores europeus, por sua vez, trouxe consigo a cultura dos engenhos de cana-de-açúcar, que passaram a moldar a paisagem e a vida em Pilõezinhos. Por volta de 1750, as terras começaram a ser transformadas sob a batuta de figuras como Cândido Moisés, senhor de vastas posses e de quase toda a área que hoje compõe a cidade. Seu legado não se limitou aos engenhos; ele também deixou uma casa que ainda hoje se ergue como testemunho histórico, um marco da opulência e do poder que dominavam a região.
Antes de ser conhecida como Pilõezinhos, a cidade foi batizada de Vila de Vera Cruz e, posteriormente, de Vila de Santa Cruz. A mudança para o nome atual está envolta em mistério e história, marcada pela descoberta de pequenos pilões esculpidos em rochas pré-cambrianas — testemunhos de um passado geológico remoto, cujas camadas de rochas metamórficas e ígneas contam uma história que se funde com a própria essência da terra. Esses pilões, datados de 500 milhões de anos, são um elo silencioso entre a geologia e a narrativa humana que se desenvolveu sobre esse solo.
Contudo, a trajetória de Pilõezinhos não foi apenas de glória. No século XIX, uma devastadora epidemia de cólera assolou a então Vila de Vera Cruz, ceifando metade da população, com especial impacto sobre a mão-de-obra escrava que sustentava os engenhos. Dessa tragédia, porém, emergiu um dos marcos mais significativos da cidade: a construção de uma capela e de um cruzeiro dedicados a São Sebastião, em cumprimento a uma promessa para salvar a população. Até hoje, o novenário que ocorre de 11 a 19 de janeiro é uma celebração que transcende o tempo, mantendo viva a tradição de fé e resistência.
No início do século XX, com os primeiros núcleos habitacionais, Pilõezinhos voltou a florescer. Em 1951, foi oficialmente reconhecida como distrito, e em 1963, conquistou sua independência como município, desmembrando-se de Guarabira.
Mas Pilõezinhos não é apenas um lugar de formação geográfica e política; é também um importante ponto no mapa cultural do Brasil. O município é o berço de José Camelo de Melo Rezende, um dos gigantes da literatura de cordel. Foi ele quem compôs “O Romance do Pavão Misterioso”, uma obra que se tornou um clássico absoluto desse gênero literário. A polêmica em torno da verdadeira autoria do romance, que Rezende teria perdido para João Melchíades Ferreira da Silva devido a circunstâncias adversas, apenas adiciona um toque de mistério à já rica tapeçaria cultural de Pilõezinhos.
Pilõezinhos não é apenas uma cidade; é um símbolo da persistência da memória, da resistência cultural e da extraordinária capacidade humana de transformar adversidades em tradições duradouras. Em cada pedra, em cada pilão, em cada verso de cordel, ecoa a história de um lugar que, embora pequeno em território, é vasto em significados.
Palmarí H. de Lucena, Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas