Líderes mundiais planejaram a paz, enquanto ainda lutavam contra as potencias do Eixo Nazista, setenta e cinco anos atrás. Presidente Roosevelt durante a visita de Winston Churchill a Casa Branca, propôs o nome de uma nova organização para a segurança mundial pós-guerra, chamar-se-ia Nações Unidas. Subsequentemente foram estabelecidas medidas concretas, para adicionar mecanismos de cooperação econômica, como o FMI e o Banco Mundial, ao arcabouço de segurança compactuado por Roosevelt, Stalin e Churchill na Conferência de Yalta, ratificado com a fundação da ONU no dia 25 de junho de 1945. Presidente Truman declarou na ocasião que os países haviam deixando de lado suas diferenças, demonstrando uma “inabalável unidade de determinação para encontrar uma maneira de acabar com todas guerras”. Euforia gradualmente transformada em frustração pelo alarmante expansão da Guerra Fria.
Apesar de inúmeros contratempos e crises financeiras, a ONU continua cumprindo sua missão, que de acordo com Dag Hammarskjold, seu segundo secretário-geral, a organização “não foi criada para conduzir a humanidade para o céu, mas para salva-la do inferno”, o exemplo mais claro sendo o fato de não termos nenhuma guerra mundial em 75 anos. Crescendo de 51 países membros a 193, após o processo de descolonização e a dissolução da União Soviética, a ONU é o norte de uma ordem mundial baseada em regras e atuação de suas agências especializadas, em todos aspectos da vida humana.
COVID-19 apresenta a mais nova, possivelmente uma das mais sérias ameaças ao sistema multilateral. Temos hoje um vazio no lugar da liderança americana, que a comunidade internacional, podia contar como um protagonista importante em crises humanitárias ou emergências sanitárias. Enquanto a pandemia causa miséria e dor mundo afora, Presidente Trump e um conventículo de lideres afins, continuam tratando a pandemia como um evento midiático, promovendo curas mágicas, espalhando teorias de conspiração, questionando fatos e estatísticas cientificas, ameaçando a autonomia e liderança da OMS e acusando a China de ser responsável pela propagação da doença.
A crise de 2007-09, provocou uma maré nefasta de populismo e circunspecção sobre instituições internacionais, transformando a ONU no principal alvo de ataques de extremistas e adversários da globalização. Nacionalismo e antipatia de Donald Trump pelo multilateralismo, tornaram-se peças fundamentais da politica externa norte-americana e seus mais ardentes acólitos, para o aparente deleite do mandatário americano. Declarando na Assembleia Geral de 2019, que “o futuro não pertence aos globalistas […] o futuro pertence aos patriotas”, o presidente americano criou um pano de fundo para uma ocasião sombria, cheia de incertezas, em vez da celebração do 75o aniversário da “grande tenda” abrigando as nações do mundo a procura de soluções para problemas globais. Se estávamos mal com a ONU, imagine como vai reagir um mundo desnorteado e fracionado emergindo na esteira dos danos causados pela COIVID-19…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores