Encontramos nosso amigo Padre Leonel em um pequeno restaurante do bairro da Soledad em Bogotá, quase três décadas haviam passado desde a nossa despedida em Nairóbi. Lembranças dos nossos projetos de alhures, desafios e os perigos nas estradas do deserto de Chalbi, no Quênia. Uma frase do religioso concluiu nossas reflexões sobre o passado: A memória é o maior presente que alguém pode dar a outra pessoa¨.
¨Revolución del perdon¨, o título do livro, atiçou-nos a curiosidade. Presente do autor, padre Leonel Narvaez. É preciso apagar os focos de rancor, ódio e vingança que cada um de nós leva no coração, para ter um futuro melhor – a premissa principal do seu trabalho na ¨Fundación para la reconciliación¨. Perdão no centro do universo humano. Fonte de todas as bondades, túmulo profundo das maldades.
O Acordo de Paz entre o Governo da Colômbia e as FARC, concretizou a opção pelo caminho da paz e reconciliação.Verdade, justiça/reparação e pactos de ¨nunca mais¨ devem ser elementos básicos na implantação do complexo de processo de paz desencadeado pelo acordo histórico. A verdade teria precedência sobre a justiça punitiva que, possivelmente, levaria 100 anos para adjudicar todos os casos pendentes.
O perdão, para o Padre Leonel, é uma virtude que serve para quebrar a irreversibilidade do passado, permitindo o retorno dos ofensores à comunidade. Um processo de catarse, de transformação da memória e de construção de novas narrativas. O perdão é, portanto, uma condição indispensável para a construção de uma atmosfera propícia à reconciliação sustentável.
É impossível ter um povo unido quando seus líderes tomam decisões e impõem soluções baseadas em rancor, ódio, interesses ou vingança pessoal, sem aceitar o perdão como o único caminho para a reconciliação e o desenvolvimento. A sociedade precisa questionar o ciclo destrutivo da política contemporânea, ódios comuns formando a base das alianças políticas, como nos ensinou o grande pensador Alexis de Tocqueville.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores