¨Pior¨ parece ser a palavra mais usada na Espanha. Possibilidade de uma retirada abrupta da Zona do Euro e retorno à peseta são ameaças distantes, mas crescentes na medida em que a economia permaneça em descenso. Ceticismo e ansiedade sobre a viabilidade da economia, sem uma infusão de ajuda financeira a la Grécia, fomentam uma atitude de ¨pegue seu dinheiro e corra¨. Empresas e pessoas diferenciadas, principalmente aquelas que podem transferir fundos ou mesmo mudar-se para o exterior seguem em uma tendência alarmante, potencialmente desestabilizadora. Saques em bancos espanhóis alcançaram 94 bilhões de dólares no mês de Julho.
Evasão de capital humano, principalmente de profissionais liberais e pessoas com vocação empresarial, é outro aspecto preocupante da crise econômica da Espanha. Limitadas oportunidades de emprego, onde o desemprego já alcança quase 25%, é obviamente o grande motivador para a emigração de 30.000 espanhóis que se registraram para empregos na Inglaterra no ano passado. Economias emergentes, principalmente o Brasil e ex-colônias espanholas na América Latina, também estão atraindo mão de obra especializada.
O Tesouro Espanhol anunciou recentemente que vai injetar 6.0 bilhões de euros no fundo de resgate bancário para ajudar o setor, depois de ter recapitalizado o Bankia, o quarto maior banco do país, com 4,5 bilhões de euros. Nacionalizado em maio, o banco, registrou um prejuízo semestral de 4.45 bilhões de euros.
O resgate do Bankia em vez de acalmar os ânimos, gerou comparações com a Argentina em 2001, quando as contas de pesos denominadas em dólares foram congeladas para evitar a evasão de divisas do país. A decisão, conhecida como ¨corralito¨, é hoje parte das discursões públicas sobre possíveis desenlaces da crise espanhola. Histórias das dificuldades legais e perdas de poupanças contadas por membros da diáspora argentina, legitimam o medo de que a mesma situação possa acontecer na Espanha. Resgates de bancos e austeridade econômica parecem não surtir o efeito desejado pelo Governo na psique do povo, que continua morbidamente pessimista. O gluglu acabou, agora tudo parece sempre ser ¨pió-pió¨.
Palmarí de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores