A participação do Brasil na construção da paz atingiu seu ápice nos anos 2000, por meio de vias bilaterais e multilaterais, destacando seu envolvimento em organismos multilaterais como a ONU, G-20, BRICS, CPLP e IBSA. Essa estratégia reflete a importância do multilateralismo na diplomacia brasileira, em que iniciativas coletivas sancionadas pela ONU são consideradas as mais legítimas e sustentáveis.
Liderado pelo presidente Lula desde seu primeiro mandato, o Brasil aspira acelerar a transição para uma configuração mais multipolar, o que influenciou seu envolvimento na construção da paz. A busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança também motivou a diplomacia brasileira a se engajar nesse tema, aumentando as expectativas internacionais em relação à paz e segurança mundial, contribuindo com recursos financeiros, tropas e modalidades inovadoras de resolução de conflitos.
O Brasil defende uma abordagem menos militarizada para a segurança mundial, buscando soluções pacíficas por meio da mediação e investimento no desenvolvimento socioeconômico. Isso envolve a implementação de políticas sociais, geração de empregos e desenvolvimento de infraestrutura, além de coordenar ações com atores nacionais e regionais, lidando com as causas subjacentes de conflitos armados, como exclusão social e subdesenvolvimento. Existe, no entanto, uma preocupação persistente com a viabilidade e sustentabilidade dessas iniciativas.
Fora da ONU, a possibilidade de outro aumento na construção da paz brasileira é limitada, não apenas pela crise política e econômica, mas também pela natureza dispersa do envolvimento do Brasil durante parte dos anos 2000 e no governo de Jair Bolsonaro, em particular. Isso é evidenciado na carteira de cooperação para o desenvolvimento Sul-Sul do país, onde muitos projetos foram indefinidamente suspensos a partir de 2016, devido a cortes orçamentários
Embora o papel ampliado do Brasil tenha se tornado visível em relação às iniciativas de manutenção e construção da paz, o país difere das abordagens de outros países emergentes. Enquanto a Índia foca no desenvolvimento e na construção da paz como algo profundamente interligados e a Turquia na construção da paz com esforços humanitários e de mediação, o Brasil faz uma distinção mais clara entre a manutenção e a construção da paz, abraçando a distinção entre essas duas esferas feita nos círculos da ONU, porém essas duas dimensões estão mais intimamente ligadas às práticas brasileiras do que aos esforços de países ocidentais.
A atuação do Brasil em esforços de mediação, manutenção da paz, assistência humanitária e programas pós-conflito segue um padrão semelhante a países emergentes como a Turquia, África do Sul e Indonésia, concentrando seus esforços em países que não são considerados nos debates internacionais de segurança, o que chama a atenção para áreas que competem com os centros mais visíveis de instabilidade e conflito na agenda da comunidade internacional. Essa abordagem reflete princípios culturais brasileiros e uma ênfase em países africanos e lusófonos.
Os esforços de construção da paz de países emergentes, incluindo o Brasil, muitas vezes têm o objetivo de fortalecer a ordem liberal das grandes potências. No entanto, esses países geralmente têm recursos limitados e uma abordagem simbólica, focando em áreas menos estratégicas do globo. Para desempenhar um papel transformador, o Brasil precisa recuperar sua base econômica e política, o país deve tornar sua própria construção da paz mais sustentável, coerente e responsável. Isso inclui não apenas as inúmeras viagens internacionais do ex-presidente Lula, mas também o retorno ao multilateralismo e a busca ativa pela resolução pacífica de conflitos regionais e internacionais.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores