O conceito de “arqueologia industrial” tem sua origem no debate sobre preservação do patrimônio industrial nos meados dos anos 1950 na Inglaterra, ganhando maior relevância diante da demolição de importantes exemplos da arquitetura industrial na década seguinte. Países realizaram ou estão realizando inventários sistemáticos de sua herança do processo de industrialização, complementados por esforços para definir o que é patrimônio industrial e determinar uma maneira como preserva-los.
Preservar e transformar o patrimônio industrial ocioso em museus, centros culturais e fontes de renda para comunidades empobrecidas, são vistos hoje como antídotos contra os efeitos do fechamento de fábricas e desaceleração econômica. Sinergias entre comunidades e parcerias público-privadas na execução de projetos de resgate histórico e patrimonial, são peças importantes de estratégias para o alivio da pobreza difusa de comunidades outrora fabril-dependentes à mercê da tutela do Estado.
Notável é o caso da Colón de Extrato de Carnes de Liebig na Argentina, empresa que trouxe prosperidade para o vilarejo de Pueblo Liebig, com a introdução de um processo alemão de conservação de carne e exportações para Europa, durante parte do século XX. Fechando suas portas em meados dos anos de 1970, a empresa doou sua planta industrial e outros bens patrimoniais incluindo a própria vila e suas estruturas físicas. Declarados Bens de Interesse Industrial Nacional, o Governo Argentino promulgou normas para a restauração e preservação patrimonial. O impacto positivo do resgate do patrimônio da Colón e do Pueblo Liebig é evidenciado pelo crescimento do turismo e viabilização da economia local, uma consequência direta destas ações.
A paisagem industrial do nosso estado está decorada com engenhos, fábricas e usinas abandonadas, mausoléus incômodos dos ciclos econômicos de alhures. A negligência benéfica do poder público com o aproveitamento do nosso patrimônio é evidenciada pela paucidade de politicas públicas e investimentos na restauração e preservação de bens vinculados ao processo de industrialização e ciclos econômicos da Paraíba e do País como um todo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores