Paternidade em tempos de covid-19

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Paternidade em tempos de covid-19

Recentemente um grupo de vinte mães marcou um encontro em frente de uma escola em Boston, o propósito da reunião não era socializar, angariar doações ou discutir as últimas notícias sobre a trajetória da covid-19. Estavam lá por uma simples razão, formar um círculo com distanciamento social apropriado e simplesmente gritar em uníssono, uma neura coletiva. A ideia era de juntar-se em protesto, de acordo com a organizadora, apoiando umas as outras na ira, decepção e resistência, frustações a flor da pele turbinadas pela montanha-russa da pandemia. Outras vinte mães não compareceram, devido infecções por covid-19 em suas famílias.

Pais no Brasil e pelo mundo afora, estão atravessando um momento terrível, por mais de dois anos, têm passado cada e todo dia navegado as águas traiçoeiras de um vírus em constante mutação, que não só ameaça o bem-estar, como também seus meios de vida. Situação que chegou a níveis extremos, durante a nova onda causada pela variante Ômicron, quando a população esperava viver normalmente após imunização massiva, sem quase nada ainda ser normal ou as peças do quebra-cabeças diante de nós, se encaixarem corretamente.

Perguntam os pais: quando podemos mandar nossas crianças de volta a escola, enquanto testes da Covid-19 continuam sendo disponíveis infrequentemente e tantos estudantes e professores estão infectados?  Quando podemos manter as crianças em casa, quando somos convocados a trabalhar presencialmente? Como podemos ser pais exemplares, quando também somos esperados a desempenhar funções profissionais e compartilharmos nossos deveres de conjugues?

Pais sentiam-se derrotados muito antes da chegada da Ômicron. Estão em um estágio da pandemia onde torna-se quase impossível encontrar palavras certas para descrever a situação em que se encontram, seria um exercício do absurdo tentar. A ciência mostra constantemente o mapa da estrada para a transformação da doença em algo epidêmico e controlável, em contradição o Governo Brasileiro trabalha com igual zelo para lapidar a confiança e apoio as ferramentas imunológicas disponibilizadas pela ciência e o SUS.

Tornou-se algo inexequível ser um pai ou mãe exemplar no Brasil, se imunizam os filhos são rotulados tolos ou mesmo irresponsáveis, por narrativas ideológicas promovidas pelas teias e arabescos de mentiras e desinformações de ideólogos do Governo. Necessitamos de formar um enorme círculo de brasileiros, gritarmos em uníssono por justiça e a verdade, dar um BASTA a transformação de nossos hospitais em celeiros de doenças e lixões de achados científicos, que beneficiam o bem-estar do povo e a eventual derrota da pandemia.   

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores  

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